Resumo Diante da emergência em saúde pública de importância internacional provocada pela COVID-19, trabalhadores da pesca artesanal, em diálogo com lideranças e acadêmicos brasileiros criaram, em março de 2020, um Observatório sobre os impactos dessa pandemia em comunidades pesqueiras. O objetivo deste artigo é analisar a experiência de vigilância popular da saúde de pescadores e pescadoras através de boletins diários produzidos no Observatório. Trata-se de um processo de monitoramento que possibilitou ampliar o reconhecimento da diversidade de modos de vida das populações vulneráveis que entrelaça saúde, ambiente e trabalho. O estudo utilizou metodologia qualitativa, horizontal e emancipatória e buscou aproximações à prática da ecologia dos saberes, tendo como resultados: construção compartilhada de informações e conhecimentos com base em experiências sociais heterogêneas; prática da ouvidoria coletiva com a valorização de saberes construídos nas lutas sociais; avaliação conjunta de iniquidades em saúde pública, conflitos territoriais e racismo ambiental, estrutural e institucional; orientação das lideranças sociais e captação de recursos através de editais públicos. Revela-se, assim, dinamicidade e horizontalidade de aprendizados com base na solidariedade e emancipação social a partir do interconhecimento.
Abstract Considering the public health emergency of international importance caused by COVID-19, artisanal fishing workers, engaging in a dialogue with Brazilian leaders and scholars, created an Observatory on the impacts of this pandemic on fishing communities in March 2020. The purpose of this article is to analyze the experience of popular surveillance of fishermen and fisherwomen’s health through daily reports produced at the Observatory. It is a monitoring process that allowed broadening the recognition of the diversity of vulnerable populations’ ways of life that intertwine health, environment and work. The study used a qualitative, horizontal and emancipatory methodology and sought approaches to the practice of the ecology of knowledges, with the following results: shared construction of information and knowledges based on heterogeneous social experiences; practice of collective ombudsman with the appreciation of knowledges built in social struggles); joint assessment of public health inequities, territorial conflicts, and environmental, structural, and institutional racism; guidance of social leaders and fundraising through public notices. Thus, the dynamics and horizontality of learning based on solidarity and social emancipation from inter-knowledge are revealed.