RESUMO Valendo-nos de pressupostos pós-estruturalistas e dos letramentos queer, em especial da pedagogia da pergunta proposta por Nelson (1999), nosso objetivo, neste artigo, é mostrar como repertórios sobre diversas esferas da vida social podem ser abordados democraticamente na educação linguística, propiciando a mobilização de significados plurais e contraditórios, bem como a articulação de resistências democráticas em sala de aula. Para tanto, revisitamos repertórios e performances de gênero e sexualidade discutidos na dissertação de mestrado de Hoelzle (2016), fazendo uma reentextualização do material empírico gerado pela autora e uma discussão em que defendemos a pedagogia da pergunta, que é habilmente desenvolvida por ela, embora esse não seja um construto praxiológico da sua pesquisa. A escolha desses dois temas de discussão, gênero e sexualidade, é providencial no contexto brasileiro, já que ambos atravessam uma parte considerável dos repertórios mobilizados e das medidas tomadas pelo atual governo para restringir a construção de sentidos críticos nos contextos educacionais. Nos seis eventos comunicativos, a pedagogia da pergunta é sempre marcada pelo conflito, advindo de diferentes historicidades e performances socioidentitárias das pessoas envolvidas nos eventos comunicativos. Assim, concluímos argumentando que, pelo fato de a linguagem permitir a produção de significados múltiplos e alternativos sobre a vida social, não podemos deixar de construir, nos contextos de educação linguística, sentidos que possibilitem a construção de enquadres mais democráticos. Essa construção é nosso “gosto de sol” que resiste na boca da noite.
ABSTRACT Drawing on assumptions from post-structuralism and queer literacies, especially the “pedagogy of inquiry” proposed by Nelson (1999), our aim, in this article, is to show how repertoires about different spheres of social life can be approached democratically in language education, allowing the mobilization of plural and contradictory meanings, as well as the articulation of democratic resistances in the classroom. To this end, we revisit repertoires and performances of gender and sexuality discussed in Hoelzle’s master’s dissertation (2016), reentextualizing the empirical material generated by the author and making a discussion in which we defend the pedagogy of inquiry, which is very well constructed by her, although this is not a praxiological construct of her study. The choice of the two topics for discussion, gender and sexuality, is providential in the Brazilian context, since both of them cross a considerable part of repertoires mobilized and measures taken by the current government to restrict the construction of critical meanings in educational contexts. In the six communicative events, the pedagogy of inquiry is always marked by conflict, arising from different historicities and socio-identity performances of the people involved in the communicative events. Thus, we conclude by arguing that, because language allows the production of multiple and alternative meanings about social life, we cannot fail to build, in the contexts of linguistic education, meanings that enable the construction of more democratic frames. This construction is our “ray of sun” that resists as night falls.