Resumo Objetivo Testar como as diferenças taxonômicas e de grupos funcionais de insetos aquáticos de riachos de altitude respondem ao gradiente ambiental e espacial em múltiplas escalas no sudeste do Brasil. Métodos As amostras foram coletadas em 26 riachos de altitude distribuídos em um gradiente de qualidade ambiental previamente definido. A identificação taxonômica foi feita no nível de gênero e a classificação funcional foi baseada em características de capacidade de voo e tolerância à poluição compiladas a partir de literatura específica. Obtivemos dados locais in situ (limnológicos, sedimentos e matéria orgânica), bem como calculamos o uso da terra na zona ripária e na escala da bacia hidrográfica. O particionamento de variância foi usado para explicar a composição de espécies com base em matrizes de resposta desconstruídas por grupos taxonômicos e características funcionais. As matrizes explicativas abrangeram as variáveis ambientais em três escalas e as variáveis espaciais extraídas da análise de Componentes Principais das Matrizes Vizinhas. Um modelo linear foi aplicado para verificar a possível correlação entre componentes espaciais e ambientais. Resultados A contribuição dos componentes espaciais e ambientais variou fortemente entre os grupos taxonômico e funcional. Para os grupos taxonômicos Odonata e Trichoptera, o componente ambiental puro foi mais importante, enquanto as variáveis espaciais foram mais importantes para Diptera (exceto-Chironomidae) e Chironomidae, Coleoptera, Ephemeroptera, Plecoptera and Megaloptera. Os grupos sensíveis com boa capacidade de voo apresentaram maior assinatura ambiental, enquanto os grupos tolerantes e com baixa capacidade de voo tiveram maior assinatura espacial. Além disso, as variáveis importantes para explicar a variação da comunidade foram de diferentes escalas espaciais (local, riparia e da bacia hidrográfica), dependendo dos grupos taxonômicos ou funcionais analisados, mas um efeito geral das florestas foi encontrado em vários grupos. Conclusões É necessário considerar o efeito conjunto da história natural evolutiva dos grupos, bem como seus traços funcionais na estruturação de metacomunidades, uma vez que apenas resoluções taxonômicas podem não ser suficientes para detectar processos de montagem em múltiplas escalas espaciais.
Abstract: Aim To test how different taxonomic and functional groups of aquatic insects from high-altitude streams respond to environmental and spatial gradients at multiple scales in Southeast of Brazil. Methods Specimens were collected in 26 high-altitude streams distributed over a gradient of previously defined environmental quality. The taxonomic identification was made at the genus level and the functional classification was based on traits of flight capacity and pollution tolerance compiled from specific literature. We obtained local in situ data (limnological, sediments, and organic matter), as well as calculated land use at the riparian and drainage basin scale. A variation partitioning approach was used to explain species composition based on different response matrices deconstructed by both taxonomic groups and functional traits. The explanatory matrices encompassed environmental variables at three spatial scales and spatial variables extracted from Principal Components of Neighbor Matrices analysis. A linear model was applied to verify the possible correlation between spatial and environmental components. Results The contribution of the spatial and environmental components varied strongly between taxonomic and functional groups. For taxonomic groups, the pure environmental component was more important for Odonata and Trichoptera, while spatial variables were more important for Diptera (non-Chironomidae) and Chironomidae, Coleoptera, Ephemeroptera, Plecoptera and Megaloptera. The sensitive groups with good flight capacity showed a greater environmental signature while the tolerant groups with low flight capacity had a greater spatial signature. Moreover, the important variables for explaining community variation were from different spatial scale (local, riparian and watershed) depending either on the analyzed taxonomic or on functional groups. However, a general effect of forests was found in several groups. Conclusions It is necessary to consider the joint effect of evolutionary natural history of groups, as well as their functional traits in the structuring of metacommunities, since only taxonomic resolutions may not be sufficient to detect assembly processes at multiple spatial scales.