Resumo Introdução: A dissecção endoscópica da submucosa (ESD) é uma técnica endoscópica com demonstrada eficácia nas lesões neoplásicas superficiais colorectais. No entanto, a evidência da sua eficácia nas lesões localizadas na junção ano-rectal é escassa. O nosso objectivo foi avaliar a segurança e eficácia da ESD nas lesões da junção ano-rectal (menos de 2 cm da linha pectínea), em comparação com as lesões mais proximais do recto. Métodos: Análise retrospectiva de registos colhidos prospectivamente de dois centros europeus de referência, entre 2015 e 2021. Resultados: Foram incluídas 252 lesões. Sessenta (24%) localizavam-se na junção ano-rectal, e as restantes 192 noutro local do recto. O sucesso técnico foi de 98% (n = 248) e foi semelhante nas 2 localizações (p = 0.246). A maioria das lesões eram displasias de alto grau/Tis (54%); 36 (15%) tinham adenocarcinoma submucoso, tendo 20 invasão submucosa superficial (sm1) e 16 invasão profunda (>SM1). Não foram encontradas diferenças entre as duas localizações relativamente às taxas de ressecção em bloco (100% vs. 96%, p = 0.204), R0 (76% vs. 75%, p = 0.531), ou curativa (70% vs. 70%, p = 0.920), duração da ESD (mediana 120 min vs. 90 min, p = 0.072), velocidade da ESD (14 vs. 12 mm2/min, p = 0.415) ou resultado histológico (p = 0.053), assim como na necessidade de cirurgia por ESD não curativa (5% vs. 3%, p = 0.739). Além disso, as taxas de hemorragia tardia (7% vs. 8%, p = 0.709), perfuração (0% vs. 5%, p = 0.075) e necessidade de internamento por complicações (2% vs. 2%, p = 0.939) não revelaram diferenças estatisticamente significativas. A estenose ano-rectal (5% vs. 0%, p = 0.003) e a dor ano-rectal (9% vs. 1%, p = 0.002) foram mais frequentes nas lesões da junção ano-rectal. Conclusão: A ESD é uma técnica segura e eficaz no tratamento das lesões do recto localizadas na junção ano-rectal.
Abstract Introduction: Endoscopic submucosal dissection (ESD) is a well-established resection technique for colorectal superficial tumors, but its role in the treatment of anorectal junction (ARJ) lesions still remains to be determined. With this study, we aimed to evaluate the feasibility, safety, and efficacy of ESD for the resection of ARJ lesions, in comparison to more proximal rectal lesions. Methods: We performed a retrospective analysis of prospectively collected data concerning all consecutive rectal ESD procedures performed in two European centers, from 2015 to 2021. Results: A total of two hundred and fifty-two rectal lesions were included. Sixty (24%) were ARJ lesions, and the remaining 192 (76%) were located proximally. Technical success was achieved in 248 procedures (98%), and its rate was similar in both locations (p = 0.246). Most of the lesions presented high-grade dysplasia/Tis adenocarcinoma (54%); 36 (15%) had submucosal adenocarcinoma, including 20 superficial (sm1) and 16 deeply invasive (>SM1) T1 cancers. We found no differences between ARJ and rectal lesions in regard to en bloc resection rate (100% vs. 96%, p = 0.204), R0 resection rate (76% vs. 75%, p = 0.531), curative resection rate (70% vs. 70%, p = 0.920), procedures’ median duration (120 min vs. 90 min, p = 0.072), ESD velocity (14 vs. 12 mm2/min, p = 0.415), histopathology result (p = 0.053), and the need for surgery due to a non-curative ESD (5% vs. 3%, p = 0.739). Also, there was no statistically significant difference that concerns delayed bleeding (7% vs. 8%, p = 0.709), perforation (0% vs. 5%, p = 0.075), or the need for readmission (2% vs. 2%, p = 0.939). Nevertheless, anorectal stenosis (5% vs. 0%, p = 0.003) and anorectal pain (9% vs. 1%, p = 0.002) were significantly more frequent in ARJ lesions. Conclusion: ESD is a safe and efficient resection technique for the treatment of rectal lesions located in the ARJ.