Resumo Os distúrbios contra uma batida policial em Nova York no bar Stonewall Inn em junho de 1969 são frequentemente identificados como tendo desencadeado o movimento pelos direitos LGBT e a comemoração dos distúrbios um ano depois, em junho de 1970, inaugurou uma série de eventos do Orgulho LGBT que continuam até hoje em todo o mundo. Neste fórum de duas partes, refletimos sobre os efeitos contraditórios do legado internacional de Stonewall. Nesta segunda parte do Fórum, Ferreira e Belmont investigam as formas pelas quais ‘Stonewall’ foi apropriado especificamente no Brasil, tanto durante a ditadura civil-militar quanto no atual momento político conturbado. Belmont localiza as incompatibilidades atuais entre as lutas LGBT e queer no Brasil ao justapor visões mais convencionais da política LGBT com as margens que elas criam, especialmente a marginalização das travestis. Belmont expõe como o discurso e as práticas LGBT dominantes reforçam a violência contínua sobre corpos dissidentes e propõe que consideremos as experiências e argumentos das travestis como contribuições necessárias para uma política mais radical (queer). Na contribuição final, Ferreira recapitula as demandas políticas dos eventos de Stonewall de Nova York e os compara às reivindicações revolucionárias do que foi chamado de ‘Stonewall brasileiro.’ Considerando o protagonismo dos movimentos lésbicos em eventos como esse no Brasil, sua contribuição analisa, a partir de uma perspectiva queer, o abraço de uma multiplicidade de identificações no ativismo lésbico contemporâneo. Ela argumenta que esse movimento cria potencialidades para responder a violências estruturais, ao mesmo tempo em que aborda questões como a judicialização e comercialização de causas LGBTTI e homonormatividade.
Abstract The riots against a New York City police raid at the Stonewall Inn bar in June, 1969, are often identified as having sparked the movement for LGBT rights, and the commemoration of the riots one year later in June, 1970, inaugurated a series of annual LGBT Pride events that continues to this day worldwide. In this two-part Forum, we reflect on the contradictory effects of Stonewall’s international legacy. In this second part of the Forum, Ferreira and Belmont investigate the ways in which ‘Stonewall’ has been appropriated specifically in Brazil, both during the civil-military dictatorship and in the current fraught political moment. Belmont locates current mismatches between LGBT and queer struggles in Brazil by juxtaposing more mainstream visions of LGBT politics with the margins they create, especially the marginalization of travestis. Belmont exposes the way that dominant LGBT discourse and practices reinforce the continuous violence over dissident bodies and proposes that we look at travestis’ experiences and arguments as necessary contributions to a more radical (queer) politics. In the final contribution, Ferreira recapitulates the political demands of NYC’s Stonewall events and contrast them to the revolutionary claims of what was called a ‘Brazilian Stonewall.’ Considering the protagonism of lesbian movements in such events in Brazil, her contribution analyzes, from a queer perspective, the embrace of a multiplicity of identifications in contemporary lesbian activism. She argues that this move creates potentialities for responding to structural violences, while also speaking to questions such as the judicialization and commercialization of LGBTTI causes and homonormativity.