OBJETIVO: Melhoras neurocognitivas observadas no transtorno psicótico podem ter impacto no reconhecimento de emoções e na teoria da mente, resultando numa alteração na compreensão do mundo social. Esforços para uma intervenção precoce poderiam se beneficiar de uma maior elucidação deste mecanismo. MÉTODO: Pacientes com transtornos psicóticos (n=30) e um grupo controle de referência (n=310) foram convidados a realizar avaliações emocionais de imagens de situações sociais (teste AESS). A relação das diferenças entre casos e controles com as alterações neurocognitivas foi analisada. RESULTADOS: O teste AESS apresentou validade convergente e discriminatória. Quando comparados aos controles, os pacientes apresentaram avaliação emocional embotada das situações sociais (B=0,52, 95% CI: 0,30, 0,74, P<0,001; ajustado para a idade, sexo e número de anos de educação: B=0,44, 95% CI: 0,20, 0,68, P<0001), uma diferença de 0,88 (ajustado: 0,75) desvio-padrão. Após o ajuste para as variáveis neurocognitivas, as diferenças no estudo caso-controle foram reduzidas em quase 75% e deixaram de ser significativas (B=0,12, 95% CI: -0,14, 0.39, P=0,37). CONCLUSÕES: Disfunções neurocognitivas observadas em pacientes com transtornos psicóticos podem ser subjacentes a uma distorção do mundo social, mediada pela alteração no reconhecimento de emoções. Um teste que avalie o impacto social de alterações cognitivas na prática clínica pode ser útil para a detecção das principais alterações nos primeiros estágios de transtornos psicóticos.
OBJECTIVE: Neurocognitive impairments observed in psychotic disorder may impact on emotion recognition and theory of mind, resulting in altered understanding of the social world. Early intervention efforts would be served by further elucidation of this mechanism. METHOD: Patients with a psychotic disorder (n=30) and a reference control group (n=310) were asked to offer emotional appraisals of images of social situations (EASS task). The degree to which case-control differences in appraisals were mediated by neurocognitive alterations was analyzed. RESULTS: The EASS task displayed convergent and discriminant validity. Compared to controls, patients displayed blunted emotional appraisal of social situations (B=0.52, 95% CI: 0.30, 0.74, P<0.001; adjusted for age, sex and number of years of education: B=0.44, 95% CI: 0.20, 0.68, P<0.001), a difference of 0.88 (adjusted: 0.75) standard deviation. After adjustment for neurocognitive variables, the case-control difference was reduced by nearly 75% and was non-significant (B=0.12, 95% CI: -0.14, 0.39, P=0.37). CONCLUSIONS: Neurocognitive impairments observed in patients with psychotic disorder may underlie misrepresentation of the social world, mediated by altered emotion recognition. A task assessing the social impact of cognitive alterations in clinical practice may be useful in detecting key alterations very early in the course of psychotic illness.