Resumo: Introdução: A extensão universitária com populações excluídas socialmente pode ser uma estratégia na formação de profissionais sobre a diversidade cultural e social brasileira. A perspectiva da Educação Popular em Saúde (EPS) nesse contexto é uma das possibilidades para fomentar interações dialógicas entre ensino e comunidade, favorecendo espaço para o desenvolvimento da formação em saúde com compromisso social. O Projeto de Extensão Îandé Gûatá surge em 2013, na Paraíba, a partir dos princípios da EPS e da Extensão Popular, com foco no encontro entre indígenas Potiguara e estudantes de Medicina. Esta pesquisa objetivou avaliar os aprendizados construídos pelos extensionistas desse projeto em sua formação médica. Método: Para tanto, desenvolveu-se uma pesquisa com abordagem qualitativa a partir dos referenciais teórico-metodológicos das práticas discursivas. Utilizou-se a técnica da roda de conversa para construção de dados, realizada no momento de encerramento do ciclo do projeto. Para análise do material, foram identificados repertórios linguísticos a partir das falas dos sujeitos com construção de três conjuntos de sentidos: a extensão universitária como espaço contra-hegemônico de formação médica; o desenvolvimento de competências gerais para o futuro profissional de saúde; o encontro entre diferentes culturas nas vivências da extensão. Os repertórios linguísticos foram discutidos com base em referenciais teóricos de EPS, saúde indígena e competências na educação médica. Resultados: Nas falas dos estudantes, o projeto permitiu ganhos nos seguintes atributos: conhecimento, porque permitiu reflexões, identificação de lacunas e maior entendimento sobre o processo saúde-doença no contexto da população indígena; habilidades de fazer e receber críticas, de trabalho em equipe e de diálogo entre culturas diferentes; e atitudes, ampliando a postura do profissionalismo, a compreensão e a ação perante as questões éticas e sociais. Conclusões: Dessa forma, destacam não somente o desenvolvimento de competências gerais para o futuro médico, mas também as mais específicas, como a competência cultural. Além disso, enfatizam o desafio de dialogar na polaridade, de modo a diminuir as distâncias dentro do mesmo espaço institucional e do conflito cultural, e promover a compreensão e ação numa educação emancipatória. Esse coletivo de estudantes esperançou com a comunidade indígena a aproximação dessas distâncias, num compromisso coletivo de produzir mudança e transformação social.
Abstract: Introduction: University extension projects with socially excluded populations can be a strategy for the training of professionals in the cultural and social diversity of the Brazilian population. The practice of Popular Health Education (PHE) through university extension is one of the possibilities to foster dialogic interactions between teaching and the community and has been a space for the development of health education with social commitment. The Îandé Gûatá Extension Project was created in Paraíba in 2013, based on the principles of PHE and Popular Extension, focusing on the meeting between Potiguara indigenous people and Medical students. This study aimed to evaluate the learning built by this project students’ for their medical education. Method: Therefore, a qualitative approach research was developed through the analysis of discursive practices, using the talking circle technique at the end of the project cycle. To analyze the material, linguistic repertoires were identified from the subjects’ speech and three sets of meanings were built: extension university as a counter-hegemonic space of medical education; building skills for the future doctor; relations between health and culture in care. The linguistic repertoires were discussed based on theoretical references, such as popular health education, indigenous health and competences in medical education. Results: According to the students, this project allowed them gains in the attributes of: knowledge, as it allowed reflections, identification of gaps and greater understanding about the health-disease process in the context of the indigenous population; allowed gains in the ability of making and receiving criticism, teamwork and dialogue between different cultures; and allowed gains in attitudes, broadening the attitude of professionalism, the comprehension and performance on ethical issues and the construction of social commitment. Conclusion: Therefore, they highlight both the development of general competences for the future doctor, but also more specific ones, such as cultural competence. Moreover, the challenge of dialoguing in the polarity: aiming to reduce the distances within the same institutional space; cultural conflicts; and understanding and acting in an emancipatory education. This group of students wished, with the indigenous community, that these distances would be lessened, in a collective commitment aimed at producing change and social transformation.