Resumo: O Kanban é um arranjo tecnológico de organização do cuidado hospitalar orientado para a gestão de leitos e da clínica, que visa à qualidade e integralidade da assistência, maior rotatividade dos leitos, com consequente redução do tempo de internação e custos hospitalares. O constante e atualizado acompanhamento do paciente, compartilhado pela equipe profissional em reuniões sistemáticas é seu elemento mais marcante e inovador. O objetivo foi caracterizar os prováveis impactos da adoção de tal arranjo no poder profissional (autonomia e autoridade) dos médicos. Estudo qualitativo em hospital de urgência-emergência municipal com uso das seguintes técnicas de produção de dados: etnografia do cotidiano do hospital, com observação e registro em diários de campo, e realização de seminários compartilhados entre pesquisadores e equipes. Os médicos valorizam o trabalho multiprofissional como um qualificador de sua prática, em uma linha auxiliar e complementar. Acresce que o Kanban tende a ser controlado por “híbridos” (médicos que acumulam funções gerenciais e clínicas) que traduzem sinergias entre “gestão clínica” e “gestão de leitos”. Assim, interferências no trabalho dos médicos não são exercidas de fora, e as suas decisões clínicas continuam a condicionar o trabalho dos demais grupos profissionais. Os médicos não percebem sua autoridade e autonomia ameaçadas pelo Kanban, dada a articulação entre a autoridade administrativa e a autoridade profissional. Contudo, aspectos relacionados à hibridização e estratificação interna da profissão médica precisam ser mais convocados para o debate do poder profissional em saúde.
Abstract: Kanban is a technical arrangement for the organization of hospital care focused on the management of beds and clinical care, aimed at the quality and comprehensiveness of care and greater hospital bed turnover, and thus a reduction in length-of-stay and hospital costs. The system’s most striking and innovative feature is constant, updated patient follow-up, shared by the professional team in systematic meetings. Characterize the probable impacts from the arrangement’s adoption on physicians’ professional power (autonomy and authority). Qualitative study in a municipal urgency-emergency hospital using the following data production techniques: ethnography of the hospital’s routine, with observation and records in field diaries, and shared seminars with researchers and teams. Physicians value multi-professional work for qualifying their practice, as an ancillary and complementary line. Kanban tends to be controlled by “hybrids” (physicians who accumulate management and clinical functions) that express synergies between “clinical management” and “hospital bed management”. Thus, in this arrangement interferences in physicians’ work are not exercised from outside, and physicians’ clinical decisions still condition the work of the other professional groups. Physicians do not see their authority and autonomy threatened by Kanban, given the linkage between management authority and professional authority. Still, aspects related to hybridization and internal stratification of the medical profession need to be better addressed in the debate on health professionals’ power.
Resumen: El Kanban es una solución tecnológica para la organización del cuidado hospitalario, orientada a la gestión de camas y apartado clínico, que tiene como meta la calidad e integralidad de la asistencia, una mayor rotatividad de las camas, con la consecuente reducción del tiempo de internamiento y costes hospitalarios. El seguimiento constante y actualizado del paciente, compartido por un equipo profesional en reuniones sistemáticas, es su característica más destacable e innovadora. Caracterizar los probables impactos en la adopción de tal solución tecnológica, respecto al poder profesional (autonomía y autoridad) de los médicos. Estudio cualitativo en un hospital de urgencias municipal, mediante el uso de las siguientes técnicas de producción de datos: etnografía del día a día del hospital, con observación y registro en diarios de campo, así como la realización de seminarios compartidos entre investigadores y equipos. Los médicos valoran el trabajo multiprofesional como un elemento que cualifica en su práctica, dentro de una línea auxiliar y complementaria. Añade que el Kanban tiende a estar controlado por “híbridos” (médicos que acumulan funciones de gerencia y clínicas) que se traducen en sinergias entre “gestión clínica” y “gestión de camas”. De esta forma, las interferencias en el trabajo de los médicos no se ejercen a partir de fuera y sus decisiones clínicas continúan condicionando el trabajo de los demás grupos profesionales. Los médicos no perciben que su autoridad y autonomía estén amenazadas por el Kanban, dada la coordinación entre la autoridad administrativa y la autoridad profesional. No obstante, los aspectos relacionados con la hibridización y estratificación interna de la profesión médica necesitan ser estudiados más para los debates sobre el poder profesional en salud.