Existem poucos estudos publicados sobre o efeito da coleta inadequada de resíduos sólidos sobre a saúde da população exposta a estes resíduos. O objetivo do presente trabalho foi descrever esta associação em uma amostra de crianças menores de 5 anos, moradoras de sete vilas e favelas em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Foram consideradas expostas as crianças cujas famílias não eram beneficiadas pela coleta; não expostas eram as crianças cujas famílias moravam em zonas de coleta. Foi empregado o delineamento epidemiológico seccional, sendo definidos como "casos" os registros ambulatoriais secundários que indicavam doenças diarréicas, parasitárias e dermatológicas. Paralelamente, as demais notificações observadas para a mesma faixa etária constituíram o grupo controle. O estudo foi realizado com base em dados de 1994, sendo que os dados sobre incidência das doenças que caracterizaram os casos, assim como os registros empregados para a composição da amostra de controles, foram obtidos junto ao sistema informatizado da Secretaria Municipal da Saúde. O estudo epidemiológico desenvolvido revelou associação entre ausência de coleta de resíduos sólidos domiciliares e saúde pública. Os resultados sugerem que a população infantil exposta à ausência de serviços de coleta dos resíduos sólidos domiciliares possui 40% (razão de possibilidades de ocorrência ou odds ratio da ordem de 1,40) mais oportunidade de apresentar doenças diarréicas, parasitárias e dermatológicas do que a população não exposta. Além disso, o cálculo do risco atribuível populacional revelou que a universalização da coleta de lixo poderia evitar, considerando o quadro existente em 1995, 512 casos entre crianças nas vilas e favelas estudadas e, para a situação existente em 1994, 2316 casos entre a população infantil em toda a cidade de Belo Horizonte.
There are few published studies about the effects of inadequate solid waste collection on the health of the population exposed to this situation. The objective of the present work was to describe this association in a sample of children under 5 years of age living in seven low-income neighborhoods and favelas in the city of Belo Horizonte, state of Minas Gerais, Brazil. We defined as "exposed" those children whose families were not served by waste collection; "not-exposed" were children who lived in areas with waste collection. The study employed data collected in 1994 and organized as a database by the municipal department of health. We employed a cross-sectional design, in which a "case" was defined as a child whose outpatient clinic record indicated a diagnosis of diarrheal, parasitic, or dermatological disease. Other diagnoses for the same age group composed the control group. Our epidemiological study revealed an association between the absence of domestic solid waste collection and public health. Our results suggest that the children exposed to the absence of solid waste collection have a 40% higher odds (OR = 1.40) of presenting diarrheal, parasitic, and dermatological diseases than not-exposed children. In addition, the calculation of attributable risk revealed that the presence of waste collection could prevent (based on the 1995 situation) 512 cases in the neighborhoods studied and (based on the 1994 conditions) 2 316 cases among children in the entire city of Belo Horizonte.