Resumo: Introdução: No Brasil, crianças e adolescentes figuram como as principais vítimas de violência doméstica, sexual ou outros tipos de violência interpessoal e autoprovocada. A atualidade pluraliza as tipificações de violência, gerando margem para dubiedade em relação aos preceitos de cada cenário. Emerge-se então, diante deste cenário, a grande necessidade de compreensão, investigação e aprofundamento destes fenômenos e das populações envolvidas neles; entretanto, questões como privacidade, sigilo e segurança podem produzir dilemas éticos para pesquisadores, participantes do estudo e profissionais. Objetivo: relatar e refletir sobre os procedimentos éticos de duas pesquisas qualitativas, uma junto a famílias envolvidas em violências interpessoais contra crianças e adolescentes e outra junto a adolescentes envolvidos em violências autoinfligidas. Métodos: relato de experiência de dois estudos qualitativos realizados em municípios de médio porte do estado de São Paulo, Brasil. Resultados: A adoção de abordagens metodológicas que favoreçam a escuta ampliada e o acolhimento dos participantes, para além da coleta de informações, deve ser priorizada; ademais das estratégias de cuidado continuado, como encaminhamento para serviços de saúde e articulação com o território. Os campos de estudo precisam ser parceiros e efetivamente coparticipantes desta construção que envolve pesquisas e cuidados em saúde que se tornam indissociáveis, e não simplesmente cenários de pesquisa. Conclusões: O debate durante a formação dos profissionais que lidam com os casos das tipificações de violência deve perpassar os muros da academia e da prática, além disso, pesquisas sobre violências envolvendo crianças, adolescentes e suas famílias são desafiadoras do ponto de vista ético, legal, técnico e econômico. Entretanto, tais populações devem ser vistas e ouvidas na construção de conhecimento científico, principalmente em assuntos que os envolvem diretamente.
Abstract: Introduction: In Brazil, children and adolescents are the main victims of domestic, sexual and other types of interpersonal and self-harm. Nowadays pluralizes the typifications of violence, generating room for dubiousness in relation to the precepts of each scenario. Then, in view of this scenario, the great need to understand, investigate and deepen these phenomena and the populations involved in them emerges; however, issues such as privacy, secrecy and security can produce ethical dilemmas for researchers, study participants and professionals. Objective: to report ethical research procedures with families involved in interpersonal violence against children and adolescents and with adolescents involved in self-inflicted violence. Methods: experience report of two studies carried out in medium-sized municipalities in the state of São Paulo, Brazil. Results: The adoption of methodological approaches that favor extended listening and welcoming the participants, in addition to the collection of information, should be prioritized; in addition to continuing care strategies, such as referral to health services and articulation with the territory. The fields of study need to be partners and effectively co-participants in this construction of knowledge, and not simply research scenarios. Conclusions: The debate during the training of professionals who deal with cases of types of violence must pass through the walls of academia and practice, in addition, research on violence involving children, adolescents and their families is challenging from an ethical, legal point of view, technical and economical. However, such populations must be seen and heard in the construction of scientific knowledge, especially in matters that directly involve them.