Resumo: A "visão recebida" acerca das ideias de Descartes contribuiu com a sedimentação da imagem de um pensador dualista que teria separado radicalmente mente e corpo, tendo sido responsável, consequentemente, por ter fornecido os alicerces da "modernidade cindida". Não faltam epítetos, que atualmente soam de modo depreciativo, para se referir ao pensamento cartesiano: mecanicismo, determinismo, reducionismo, entre outros. Neste artigo nós desenvolvemos o argumento de acordo com o qual Descartes não foi um dualista do tipo como normalmente se supõe. Com base em uma releitura de duas das suas principais obras (Discurso do Método e Meditações Metafísicas) e de uma discussão com a nova literatura sobre o tema, sustenta-se a tese de que a superação da referida "visão recebida" pode produzir uma nova luz - nas discussões no/do campo da saúde coletiva - que pode dar relevo ao chamado paradigma ampliado da saúde (a valorização de outros aspectos que não apenas o biológico ou fisiológico, tais como o psicológico, social, econômico, cultural, político).
Abstract: The "received view" of Descartes has shaped the image of a dualist thinker who radically separated mind and body and thus laid the foundations for a "divided modernity". Numerous epithets have been applied to Cartesian thinking, all of which now sound depreciative: mechanicism, determinism, and reductionism, among others. This article contends that Descartes was not the type of dualist that is normally assumed. Based on a rereading of two essential works (Discourse on Method and Metaphysical Meditations) and a dialogue with the new literature on the theme, we contend that overcoming the "received view" of Descartes can shed new light on discussions in (and of) the collective health field and highlight the so-called expanded health paradigm (including aspects beyond the biological or physiological, such as the psychological, social, economic, cultural, and political).
Resumen: La "visión recibida" de las ideas de Descartes contribuyó a la sedimentación de la imagen de un pensador dualista, que habría separado radicalmente mente y cuerpo, siendo responsable, consecuentemente, de haber proporcionado los fundamentos de la considerada "modernidad escindida". No faltan epítetos, que actualmente suenan en cierta medida despreciativos, para referirse al pensamiento cartesiano: mecanicismo, determinismo, reduccionismo, entre otros. En este artículo desarrollamos el argumento, de acuerdo con el cual, Descartes no fue un dualista del tipo que normalmente se le supone. En base a una relectura de dos de sus principales obras (Discurso del Método y Meditaciones metafísicas), y de una discusión con la nueva literatura sobre el tema, se sostiene la tesis de que la superación de la referida "visión recibida" puede producir una nueva luz -en las discusiones en el/del campo de la salud colectiva- que puede dar relevo al llamado paradigma ampliado de la salud (la valorización de otros aspectos, no solamente el biológico o fisiológico, tales como el psicológico, social, económico, cultural, político).