O artigo explora as narrativas pró-direito ao aborto no Brasil com base no narrative policy framework (NPF). Foram analisados documentos pró-direito ao aborto elaborados por ativistas feministas entre 1976 e 1988 e documentos de organizações feministas, projetos de leis e documentos de políticas públicas sobre aborto referentes ao período de 1989 a 2016. Foi feita uma análise de conteúdo dos dois conjuntos de documentos usando-se o software OpenLogos. Os resultados da pesquisa revelam que as feministas fizeram uma escolha estratégica por uma narrativa de saúde pública, de modo a expandir a coalizão pró-direito ao aborto por meio da inclusão de atores da área da saúde. A aliança com a saúde levou a conquistas para a coalizão, com a criação de serviços de aborto legal e a inclusão da anencefalia entre os casos em que o aborto é permitido. A narrativa de saúde pública foi, assim, institucionalizada, tornando-se tanto a principal narrativa da coalizão quanto a principal narrativa contida nos documentos de políticas públicas. Essa institucionalização é um objetivo da atuação das coalizões de militância, mas também impõe limites à sua atuação futura, já que seu abandono pode colocar em risco a coalizão, ao mesmo tempo em que demandas futuras têm de ser elaboradas com base na estrutura de políticas públicas já existentes.
The article explores pro-abortion rights narratives in Brazil based on the narrative policy framework (NPF). I analyzed pro-abortion rights documents written by feminist activists from 1976 to 1988 and documents from feminist organizations, law proposals and policy documents regarding abortions produced between 1989 and 2016. I carried out a content analysis of both sets of documents using the OpenLogos software. Findings show that feminists made a strategic choice in favor of a public health narrative so as to expand the pro-abortion rights coalition through inclusion of actors from the health sector. The alliance with the health sector led to achievements, such as the creation of the first legal abortion services and the inclusion of anencephaly among the cases in which abortion is permitted. The public health narrative was, therefore, institutionalized, becoming both the main narrative employed by the coalition and the main narrative found in policy documents. This institutionalization is a goal for advocacy coalitions, but also imposes limits to their future work, since abandoning an institutionalized narrative may risk the coalition, while future demands must be formulated within the already-existing public policy structure.
El artículo investiga los relatos pro-derecho al aborto en Brasil, basándose en la narrative policy framework (NPF). Se analizaron documentos pro-derecho al aborto elaborados por activistas feministas entre 1976 y 1988 y documentos de organizaciones feministas, proyectos de leyes y documentos de políticas públicas sobre el aborto, referentes al período de 1989 a 2016. Se realizó un análisis de contenido de los dos conjuntos de documentos usando el software OpenLogos. Los resultados de la investigación revelan que las feministas escogieron estratégicamente un relato de salud pública para que se expandiera la coalición pro-derecho al aborto, mediante la inclusión de actores del área de la salud. La alianza con la salud condujo a conquistas para la coalición, con la creación de servicios de aborto legal y la inclusión de la anencefalia entre los casos en los que se permite el aborto. El relato de salud pública fue, de esta forma, institucionalizado, convirtiéndose tanto en el principal relato de la coalición, como en el relato principal contenido en los documentos de políticas públicas. Esta institucionalización es un objetivo de la actuación de las coaliciones de militantes, así como también impone límites a su actuación futura, ya que su abandono puede poner en riesgo la coalición, al mismo tiempo en que las demandas futuras se han de elaborar a partir de la estructura de políticas públicas ya existentes.