RESUMO Objetivo Investigar a associação entre exposição à violência doméstica e aumento do risco de problemas internalizantes e externalizantes e uso de substâncias entre adolescentes que vivem em famílias com transtorno por uso de substâncias (TUS) em uma comunidade de baixa renda de São Paulo, Brasil. Métodos Estudo transversal com 102 adolescentes de 12 a 17 anos (M = 14,2, DP = 1,7) que vivem com familiares com TUS. Os desfechos foram avaliados por meio do Inventário de Autoavaliação para Adolescentes (YSR), questionários de fatores de estresse psicossociais, Drug Use Screening Inventory (DUSI) e Inventário de Frases de Violência Doméstica (IFVD). Resultados A amostra apresentou altas taxas de problemas emocionais/comportamentais no YSR, sendo 24,5% com escores na faixa clínica para Problemas Internalizantes, 21,6% para Problemas Externalizantes e 26,5% para Problemas Totais. A presença de problemas de saúde mental foi preditora do uso de substâncias (RP = 2,22; IC 95% = 1,2-4,13) e o uso de substâncias foi preditor do aumento da prevalência de problemas emocionais/comportamentais. O uso de álcool prediz mais do que o dobro do risco de problemas emocionais/comportamentais (RP = 2,01; IC 95% = 1,08-3,76), enquanto o uso de substâncias ilícitas esteve associado com um aumento de quase três vezes na prevalência de Problemas Internalizantes (RP = 2,87; IC 95% = 1,19-6,89) e Externalizantes (RP = 3,3; IC 95% = 1,35-8,04). Conclusão Adolescentes que convivem diretamente com familiares com TUS estão em risco para o desenvolvimento de problemas emocionais/comportamentais. Os achados reforçam a necessidade de políticas públicas que incluam programas de proteção para adolescentes que vivem em famílias com transtornos causados pelo uso de substâncias.
ABSTRACT Objective To investigate the association between exposure to domestic violence and increased risk of internalizing and externalizing problems and substance use among adolescents living with relatives with substance use disorder (SUD) at a low-income community of São Paulo, Brazil. Methods A cross-sectional study was conducted with 102 adolescents aged 12-17 years (M = 14.2, SD = 1.7) who were living with relatives suffering from SUD. Outcomes were measured using the Youth Self-Report (YSR), psychosocial stress factors questionnaire, Drug Use Screening Inventory (DUSI) and Phrase Inventory of Intrafamily Child Abuse (PIICA). Results The sample presented high prevalence of emotional/behavioral problems with YSR’s scores in the clinical range for Internalizing Problems (24.5%), Externalizing Problems (21.6%), and Total Problems (26.5%). The presence of mental health problems predicted substance use (PR = 2.22; 95% CI = 1.2-4.13), and substance use predicted increased risk of mental health problems. Alcohol use predicted more than double the risk of emotional/behavioral problems (PR = 2.01; 95% CI = 1.08-3.76), while illicit drug use was associated with an almost threefold increase in the prevalence of Internalizing (PR = 2.87; 95% CI = 1.19-6.89) and Externalizing Problems (PR = 3.3; 95% CI = 1.35-8.04). Conclusion Adolescents of relatives with SUD are at risk of developing emotional and behavioral problems. These findings reinforce the need to develop public mental health policies, which include protective interventions to adolescents living in families affected by substance use disorders.