Resumo Tuberculose, problema global relacionado às condições de vida da população, é um agravo historicamente complexo. Nos últimos anos, a mobilização social tornou-se componente fundamental da vigilância à doença. Neste artigo, analisam-se criticamente as concepções de mobilização social para a vigilância e para o controle da tuberculose, presentes no Programa Nacional de Controle da Tuberculose (2006), no Plano Estratégico para o Controle da Tuberculose (2007-2015), no documento de descrição da implementação do Programa Fundo Global de Luta Contra a Aids, Malária e Tuberculose no Brasil e em seis produções científicas brasileiras que abordam o tema, no período de 2007 a 2016. Especificamente, o estudo objetiva compreender essas concepções, bem como discutir as relações entre elas. Todos foram examinados por meio da análise de conteúdo. Embora favorável à mobilização social, os textos remetem a algumas contradições teóricas e epistemológicas. A mobilização social é apresentada segundo uma concepção funcionalista e utilitarista (paradigma positivista da ciência), com intencionalidade regulatória em vez de emancipatória. Parece se tratar de uma mobilização social a serviço da domesticação da sociedade, que desconsidera as experiências de vida da população e da estrutura complexa de produção e reprodução social da doença.
Abstract Tuberculosis, a global problem related to the population’s living conditions, is a historically complex problem. In recent years, social mobilization has become a fundamental component of disease surveillance. In this article, the concepts of social mobilization for tuberculosis surveillance and control, present in the National Tuberculosis Control Program (2006), in the Strategic Plan for Tuberculosis Control (2007-2015), are critically analyzed in the document description of the implementation of the Global Fund to Fight AIDS, Malaria and Tuberculosis Program in Brazil and in six Brazilian scientific productions, from 2007 to 2016, that address the theme. Specifically, the study aims to understand these concepts, as well as discuss the relationships between them. All were examined through content analysis. Although favorable to social mobilization, the texts refer to some theoretical and epistemological contradictions. Social mobilization is presented according to a functionalist and utilitarist conception (positivist paradigm of science), with regulatory rather than emancipatory intent. It seems to be a social mobilization in the service of the domestication of society, which disregards the life experiences of the population and the complex structure of production and social reproduction of the disease.
Resumen Tuberculosis, problema global relacionado a las condiciones de vida de la población, es un agravio históricamente complejo. Durante los últimos años, la movilización social pasó a ser un componente fundamental de la vigilancia de la enfermedad. En este artículo, se analizan de forma crítica las concepciones de movilización social para la vigilancia y para el control de la tuberculosis que están presentes en el Programa Nacional de Control de la Tuberculosis (2006), en el Plan Estratégico para el Control de la Tuberculosis (2007-2015), en el documento de descripción de la implementación del Programa Fondo Global de Lucha Contra el Sida, Malaria y Tuberculosis en Brasil y en seis producciones científicas brasileñas que abordan el tema, durante el período de 2007 a 2016. Específicamente, el estudio tiene por objetivo comprender esas concepciones, así como discutir las relaciones entre ellas. Todos fueron examinados por medio de análisis de contenido. Aunque son favorables a la movilización social, los textos remiten a algunas contradicciones teóricas y epistemológicas. A la movilización social se la presenta según la concepción funcionalista y utilitarista (paradigma positivista de la ciencia), con intencionalidad regulatoria en vez de emancipatoria. Parece tratarse de una movilización social al servicio de la domesticación de la sociedad, que desconsidera las experiencias de vida de la población y de la estructura compleja de producción y reproducción social de la enfermedad.