RESUMO Este estudo nasceu da observação do considerável aumento das práticas integrativas em saúde e sua inserção no Sistema Único de Saúde do Brasil por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PNPIC) de 2006. Surge, então, o questionamento dos motivos que levaram a esse aumento. O presente estudo analisou os porquês da busca de médicos recém-formados pela especialização em acupuntura na Universidade Federal de São Paulo, programa de residência médica recente na profissão. Os autores optaram pela metodologia da História Oral de Vida, tendo em vista seu potencial humanizador ao lidar com relatos de colegas e ainda pela rememoração do que foi vivido pelo entrevistado. A análise dos dados foi feita segundo o método de imersão e cristalização, baseado na fenomenologia hermenêutica, por meio do qual surgiram temáticas comuns nas narrativas dos entrevistados, as quais puderam ser analisadas com apoio na literatura vigente. Com base nas narrativas colhidas e analisadas, observou-se que um grande influenciador dos médicos na escolha da acupuntura é o descontentamento com a prática do modelo biomédico, que separa o paciente de sua totalidade, compartimentando o ser em múltiplas especialidades, o que transforma o paciente em pedaços sem avaliar sua existência como pessoa e sua saúde como um todo. Todos os narradores afirmaram considerar a acupuntura uma prática mais humana de fazer saúde, o que satisfaz o anseio de tratar o paciente, não apenas suas partes ou seus sintomas isolados, sendo esse fator fundamental para compreendermos o crescimento dessas práticas. Uma análise mais profunda das narrativas permitiu observar que na história de vida desses jovens médicos existem vivências que possibilitaram que eles estivessem dispostos a desenvolver sua humanidade de forma mais intensa. Outra característica notória que surgiu nas narrativas foi o fato de nenhum dos entrevistados ter tido contato com a acupuntura durante a graduação em Medicina, o que demonstra a incipiente inserção dessa prática no meio acadêmico, mesmo em se tratando de uma especialidade médica reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina desde a década de 1990.
ABSTRACT This study resulted from the observed considerable increase in integrative practices in health and their insertion in the Brazilian Unified Health System through the National Policy of Integrative and Complementary Practices in Health (PNPIC) of 2006. The question then arises of the reasons that led to this increase. The present study analyzed the reasons behind newly trained physicians seeking to specialize in Acupuncture at the Federal University of São Paulo, a recent medical residency program in the profession. The authors used an Oral History methodology due to its humanizing potential when dealing with accounts given by colleagues and to help interviewees recall their experiences. Data analysis was carried out using the Immersion and Crystallization method, based on hermeneutic phenomenology, through which common themes emerged in the narratives of the interviewees, which could then be analyzed based on the current literature. From the collected and analyzed narratives it is observed that dissatisfaction with the practice of the biomedical model is a major factor that influences the physicians’ choice of Acupuncture. That model is seen to treat the patient as a being that is compartmentalized into multiple specialties, transforming the patient into pieces without really assessing their existence as a person and their health as a whole. All the interviewees stated that they consider Acupuncture a more humane health care practice, corresponding to their longing to treat the patient, not only their parts, or their isolated symptoms, which factor is fundamental to understanding the growth of these practices. A deeper analysis of the narratives allowed us to observe that in the life history of these young doctors there are experiences that have enabled them to be willing to develop their humanity more intensely. Another conspicuous feature that emerged in the narratives was the fact that none of the interviewees had any contact with Acupuncture during their undergraduate medical training, which demonstrates its incipient insertion in the academic environment, even though this practice has been recognized by the Federal Council of Medicine as a medical specialty since the 1990s.