Este ensaio tem como objetivo apresentar e discutir o quadro teórico da sindemia da COVID-19. Na primeira parte, são apresentados os fundamentos e princípios da teoria sindêmica. Adotou-se o conceito de sindemia como processo de interação sinérgica entre duas ou mais doenças, no qual os efeitos se potencializam mutuamente. Foram discutidas as três principais tipologias de interação sindêmica: epidemias mutuamente causais; epidemias interagindo sinergicamente; e epidemias causais em série. Na segunda parte, a COVID-19 é analisada como uma sindemia resultante da interação entre vários grupos de doenças e o contexto socioeconômico. O modelo teórico considerou a interação entre COVID-19 e doenças crônicas não transmissíveis, doenças infecciosas e parasitárias e problemas de saúde mental. Abordou-se como as iniquidades sociais e as condições de vulnerabilidade atuam em diversos níveis e potencializam a atuação da COVID-19 e das demais pandemias. Na última seção, discute-se a necessidade de respostas abrangentes, multisetoriais e integradas ao enfrentamento da COVID-19. Foi apresentado um modelo de intervenção envolvendo as dimensões assistencial e socioeconômica. No âmbito assistencial, defendeu-se a estruturação de sistemas de saúde fortes, responsivos e acessíveis a toda a população. A dimensão econômica e social abordou o resgate dos ideais de solidariedade, da estratégia da promoção da saúde e a ênfase sobre os determinantes sociais. Conclui-se que as lições aprendidas com a abordagem sindêmica da COVID-19 exortam governos e a sociedade para o desenvolvimento de políticas que articulem intervenções clínicas, sanitárias, socioeconômicas e ambientais.
This essay aims to present and discuss the theoretical framework for the COVID-19 syndemic. The first part presents the foundations and principles of syndemic theory. For the purposes of this essay, syndemic was defined as a process of synergic interaction between two or more diseases, in which the effects are mutually enhanced. We discussed the three principal typologies of syndemic interaction: mutually causal epidemics; epidemics interacting synergically; and serial causal epidemics. In the second part, COVID-19 is analyzed as a syndemic resulting from the interaction between various groups of diseases and the socioeconomic context. The theoretical model considered the interaction between COVID-19 and chronic noncommunicable diseases, infectious and parasitic diseases, and mental health problems. The essay addressed how social iniquities and conditions of vulnerability act at various levels to increase the effect of COVID-19 and other pandemics. The last section discusses the need for comprehensive, multisector, and integrated responses to COVID-19. A model for intervention was presented that involves the patient care and socioeconomic dimensions. In the sphere of patient care, the authors defend the structuring of strong and responsive health systems, accessible to the entire population. The economic and social dimension addressed the issue of reclaiming the ideals of solidarity, the health promotion strategy, and emphasis on social determinants of health. In conclusion, the lessons learned from the syndemic approach to COVID-19 call on government and society to develop policies that link clinical, sanitary, socioeconomic, and environmental interventions.
Este ensayo tiene como objetivo presentar y discutir el cuadro teórico de la sindemia de la COVID-19. En la primera parte, se presentan los fundamentos y principios de la teoría sindémica. Se adoptó el concepto de sindemia como un proceso de interacción sinérgica entre dos o más enfermedades, en el que los efectos se potencializan mutuamente. Se discutieron las tres principales tipologías de interacción sindémica: epidemias mutuamente causales; epidemias interactuando sinérgicamente; y epidemias causales en serie. En la segunda parte, la COVID-19 es analizada como una sindemia resultante de la interacción entre varios grupos de enfermedades y el contexto socioeconómico. El modelo teórico consideró la interacción entre COVID-19 y enfermedades crónicas no transmisibles, enfermedades infecciosas y parasitarias, así como problemas de salud mental. Se abordó cómo las inequidades sociales y las condiciones de vulnerabilidad actúan en diversos niveles y potencializan la actuación de la COVID-19 y de las demás pandemias. En la última sección, se discute la necesidad de respuestas integrales, multisectoriales e integradas en el combate a la COVID-19. Se presentó un modelo de intervención implicando las dimensiones asistencial y socioeconómica. En el ámbito asistencial, se defendió la conformación de sistemas de salud fuertes, con capacidad de respuesta y accesibles a toda la población. La dimensión económica y social abordó el rescate de los ideales de solidaridad, de la estrategia de promoción de la salud, así como el énfasis sobre los determinantes sociales. Se concluye que las lecciones aprendidas con el abordaje sindémico de la COVID-19 exhortan a gobiernos y sociedad a que desarrollen políticas que implementen y coordinen intervenciones clínicas, sanitarias, socioeconómicas y ambientales.