OBJETIVO: Descrever a variação temporal na prevalência de desnutrição infantil na região Nordeste do Brasil, em dois períodos sucessivos, identificando os principais fatores responsáveis pela evolução observada em cada período. MÉTODOS: Os dados analisados provêm de amostras probabilísticas da população de crianças menores de cinco anos estudadas por inquéritos domiciliares do programa Demographic Health Surveys realizados em 1986 (n=1.302), 1996 (n=1.108) e 2006 (n=950). A identificação dos fatores responsáveis pela variação na prevalência da desnutrição (altura para idade < -2 z) levou em conta mudanças na freqüência de cinco determinantes potenciais do estado nutricional, modelagens estatísticas da associação independente entre determinante e risco de desnutrição no início de cada período e cálculo de frações atribuíveis. RESULTADOS: A prevalência da desnutrição foi reduzida em um terço de 1986 a 1996 (de 33,9% para 22,2%) e em quase três quartos de 1996 a 2006 (de 22,2% para 5,9%). Melhorias na escolaridade materna e na disponibilidade de serviços de saneamento foram particularmente importantes para o declínio da desnutrição no primeiro período, enquanto no segundo período foram decisivos o aumento do poder aquisitivo das famílias mais pobres e, novamente, a melhoria da escolaridade materna. CONCLUSÕES: A aceleração do declínio da desnutrição do primeiro para o segundo período foi consistente com a aceleração de melhorias em escolaridade materna, saneamento, assistência à saúde e antecedentes reprodutivos e, sobretudo, com o excepcional aumento do poder aquisitivo familiar, observado apenas no segundo período. Mantida a taxa de declínio observada entre 1996 e 2006, o problema da desnutrição infantil na região Nordeste poderia ser considerado controlado em menos de dez anos. Para se chegar a este resultado será preciso manter o aumento do poder aquisitivo dos mais pobres e assegurar investimentos públicos para completar a universalização do acesso a serviços essenciais de educação, saúde e saneamento.
OBJECTIVE: To describe changes in prevalence of child undernutrition in Northeastern Brazil in two successive time periods, identifying, in each period, the major factors responsible for these changes. METHODS: Data analyzed are from probabilistic samples of underfives from three Demographic Health Surveys carried out in 1986 (n=1,302), 1996 (n=1,108), and 2006 (n=950). Identification of factors responsible for temporal changes in child undernutrition (height-for-age below < -2 z) took into account time changes in five potential determinants of child nutritional status, statistical modeling of the independent association between determinants and risk of undernutrition, and calculation of attributable fractions. RESULTS: Prevalence of child undernutrition fell by one-third between 1986 and 1996 (from 33.9% to 22.2%) and by almost three-quarters between 1996 and 2006 (from 22.2% to 5.9%). Improvements in maternal schooling and in the coverage of water and sewage services were particularly important for the decline in child undernutrition in the first period, while increasing purchasing power of the poorest families and, again, maternal schooling were more relevant in the second period. CONCLUSIONS: The acceleration of the decline in child undernutrition between the two periods was consistent with accelerated improvement of maternal schooling, water supply and sewage, health care, and maternal reproductive antecedents, as well as with the outstanding increase in purchasing power among the poor during the second period. If the rate of decline in growth deficits is kept at around the rate of the most recent period, child undernutrition will be controlled in the Brazilian Northeast in less than ten years. Achieving this will depend on sustaining the increase in purchasing power among the poor and on ensuring public investment in completing the universalization of access to essential services such as education, health, and sanitation.
OBJETIVO: Describir la variación temporal en la prevalencia de desnutrición infantil en la región Noreste de Brasil, en dos períodos sucesivos, identificando los principales factores responsables por la evolución observada en cada período. MÉTODOS: Los datos analizados provienen de muestras probabilísticas de la población de niños menores de cinco años estudiados por pesquisas domiciliares del programa Demographic Health Surveys realizados en 1986 (n=1.302), 1996 (n=1.108) y 2006 (n=950). La identificación de los factores responsables por la variación en la prevalencia de la desnutrición (altura para edad <-2z) consideró cambios en la frecuencia de cinco determinantes potenciales del estado nutricional, modelaje estadísticas de la asociación independiente entre determinante y riesgo de desnutrición en el inicio de cada período y cálculo de fracciones atribuibles. RESULTADOS: La prevalencia de la desnutrición fue reducida en un tercio de 1986 a 1996 (de 33,9% a 22,2%) y en casi tres cuartos de 1996 a 2006 de (22,2% a 5,9%). Mejoras en la escolaridad materna y en la disponibilidad de servicios de saneamiento fueron particularmente importantes para la disminución de la desnutrición en el primer período, mientras que en el segundo período fueron decisivos el aumento del poder adquisitivo de las familias más pobres y, nuevamente, mejoramiento de la escolaridad materna CONCLUSIONES: La aceleración de la disminución de la desnutrición del primero al segundo período fue consistente con la aceleración de mejoras en escolaridad materna, saneamiento, asistencia a la salud y antecedentes reproductivos y, sobretodo, con el excepcional aumento del poder adquisitivo familiar, observado apenas en el segundo período. Mantenida la tasa de disminución observada entre 1996 y 2006, el problema de la desnutrición infantil en la región Noreste podría ser considerado controlado en menos de diez años. Para llegar a ese resultado será preciso mantener el aumento del poder adquisitivo de los más pobres y asegurar inversiones públicas para completar la universalización del acceso a servicios esenciales de educación, salud y saneamiento.