RESUMO Este artigo discute teoricamente intersecções entre noções de raça e língua em sociedades racializadas devido ao violento processo de colonização europeia nas Américas, como o Brasil. Essa racialização subalterniza corpos em detrimento de outros considerados universais e não racializados: homem, branco, europeu, heterossexual. Contudo, considero aqui que todos os corpos são racializados, pois este é um marcador de diferença que gera desigualdades sociais. Partindo da perspectiva decolonial (MIGNOLO, 2003; LUGONES, 2014), que destaca a importância de considerar a diferença colonial como espaço físico e imaginário onde emerge e atua a colonialidade do poder, a exposição será sobre os conceitos de ideologias linguísticas (BAUMAN; BRIGGS, 2000; BLOMMAERT; VERSCHUEREN, 1998; KROSKRITY, 2004; IRVINE, 1989), e como tais ideologias são mobilizadas para justificar hierarquias raciais impostas na sociedade (PINTO, 2014; 2018; ROSA; FLORES, 2017; ROSA, 2019; NASCIMENTO, 2019), atendendo a um projeto de nação colonial hegemônico, advindo da modernidade, centrado na tríade: uma nação, um povo, uma língua. Tal projeto moderno colonial nega a existência de outras cosmologias e ontologias, como um mecanismo de controle dos corpos. Finalmente, apresento estudos que partem do pensamento liminar, no sentido atribuído por Mignolo (2003), indicando saídas contra-hegemônicas e processos de contra colonização, conforme hooks (2008); Bispo dos Santos (2015) e outras/os que partem desse lugar historicamente subalternizado para desestabilizar a tradição colonial acadêmica. Assim, farei uma reflexão sobre a importância da produção do conhecimento gerado por acadêmicas/os indígenas e quilombolas visando à retomada de suas histórias, lutando contra desigualdades que têm sido justificadas pela história única (ADICHIE, 2019).
ABSTRACT This paper makes a theoretical discussion about the intersections between notions of race and language in racialized societies because of the violent process of european colonization in the Americas, such as Brazil. This racialization subordinates bodies to the detriment of others considered universal and not racialized: white man, european, heterosexual. However, I consider here that all bodies are racialized, as this is a mark of difference that generates social inequalities. Starting from the decolonial perspective (MIGNOLO, 2003; LUGONES, 2014), which highlights the importance of considering the colonial difference as a physical and imaginary space where the coloniality of power emerges and operates, the exhibition will focus on the concepts of linguistic ideologies (BAUMAN; BRIGGS, 2000; BLOMMAERT; VERSCHUEREN, 1998; KROSKRITY, 2004; IRVINE, 1989) and how such ideologies are mobilized to justify racial hierarchies imposed on society (PINTO, 2014; 2018; ROSA; FLORES, 2017; ROSA, 2019; NASCIMENTO, 2019), serving a hegemonic colonial nation project, arising from modernity, centered on the triad: one nation, one people, one language. Such a modern colonial project denies the existence of other cosmologies and ontologies, as a mechanism for controlling bodies. Finally, I present studies that start from border thinking, in the Mignolo (2003) sense, indicating counter-hegemonic solutions and processes of counter colonization, according to hooks (2008); Bispo dos Santos (2015) and others who leave this historically subordinate place to destabilize the academic colonial tradition. Thereby, I will think about the importance of knowledge production generated by academic indigenous and quilombolas aiming at the resumption of their stories, fighting against inequalities that have been justified by the single story (ADICHIE, 2019).