Resumo A corrida pelo ouro na Amazônia elevou os níveis de mercúrio (Hg) no ambiente e, consequentemente, aumentou a exposição humana. Uma vez liberado em sistemas aquáticos, o Hg pode gerar metilmercúrio (MeHg), um composto tóxico que se acumula ao longo de cadeias tróficas. Vários estudos têm gerado evidências sobre a sensibilidade do cérebro ao MeHg, bem como sobre a vulnerabilidade do feto durante a gravidez. O principal objetivo deste trabalho foi estimar a carga de Retardo Mental Leve (RML) em populações amazônicas, causada pela exposição pré-natal ao MeHg, utilizando a metodologia proposta por Poulin (2008). As estimativas de RML, atribuída à exposição ao MeHg pré-natal, foram baseadas no cálculo dos Anos de Vida Ajustados por Incapacidade (DALY), que foi desenvolvido a partir de taxa de incidência RML nas populações estudadas. Em nível local, o cálculo da taxa de incidência RML baseou-se em dados primários sobre a exposição ao MeHg em mulheres ribeirinhas em idade fértil. A taxa de incidência RML foi igual a 5,96/1.000 nascidos, o que resulta na perda de 2,0 pontos de QI em 34,31% dos nascidos. A estimativa de DALY/1.000 nascidos foi igual a 71,2, enquanto o DALY foi de 576. Para as estimativas regionais, foram criados diferentes cenários de exposição. Os DALYs calculados variaram de 3.256 a 65.952 por ano.
Abstract The gold rush in the Amazon Region caused an increase of mercury (Hg) levels in the environment, and, consequently, raised human exposure. Once released into aquatic systems, Hg could generate methylmercury (MeHg), an extremely toxic compound, which is accumulated through trophic chains. Several studies have provided evidences of the brain sensitivity to MeHg, as well as, of the fetus vulnerability during pregnancy. The main objective of this study was to estimate the Mild Mental Retardation (MMR) in Amazonian populations, caused by prenatal exposure to MeHg, using the methodology proposed by Poulin (2008), which quantifies the environmental burden of disease. The estimates of the MMR burden, attributed to prenatal MeHg exposure, were based on the calculation of Disability-Adjusted Life Years (DALY), which were obtained from MMR incidence rate in the studied populations. At the local level, the MMR incidence rate calculations were based on primary data of MeHg exposure of riverine women at childbearing age. The MMR incidence rate was equal to 5.96/1,000 infants, which would result in 2.0 IQ points loss in 34.31% of the newborns. The estimated DALY/1,000 infants was equal to 71.2, while the DALY was 576. For the regional estimates, different exposure scenarios were created. The calculated DALY varied from 3,256 to 65,952 per year.