Dados paleontológicos levantados nos últimos anos vêm reforçando cada vez mais a hipótese de que a sedimentação marinha aptiana nas bacias sedimentares da margem continental brasileira - com exceção da Bacia de Pelotas, a mais meridional delas - tenha ocorrido sob o domínio de águas oriundas do norte, via Mar de Tétis (Atlântico Central). As águas tetianas teriam chegado às bacias da margem continental através do "seaway" que atravessava a atual região Nordeste do Brasil, deixando seu registro nas bacias de São Luís (Formação Codó), Parnaíba (Formação Codó), Araripe (Formação Santana), Tucano (Formação Marizal), Sergipe (Formação Riachuelo) e Camamu (Formação Algodões). Apesar da prova irrefutável fornecida por diversos grupos de organismos marinhos fósseis (e.g., dinoflagelados, equinoides, foraminíferos, moluscos e peixes) conspicuamente presentes na Bacia do Araripe, são poucas as reconstituições paleogeográficas que representam explicitamente esse "seaway" que, até hoje, se encontra totalmente ignorado em publicações internacionais. O cepticismo é ainda maior com relação à afinidade tetiana, apesar de sua prova paleobiogeográfica estar bem evidenciada por moluscos e dinoflagelados e adicionalmente reforçada por amonoides da Bacia de Sergipe. Esse cepticismo é justificado, em parte, pelo fato de que, em termos tectônicos e geodinâmicos, a abertura do Atlântico Sul ocorreu do sul para o norte, pelo menos no trecho que vai da Argentina até o atual estado da Paraíba (Nordeste do Brasil).
Paleontological data obtained in recent years reinforce the hypothesis that Aptian marine sedimentation in the sedimentary basins of the Brazilian continental margin - except the Pelotas basin, the southernmost Brazilian basin - took place under the domain of waters coming from the north through the Tethys Sea (Central Atlantic). Tethyan waters could reach the basins of the Brazilian continental margin via the seaway then existing in the present-day region of northeastern Brazil. Here there are records in several basins, notably in the São Luís (Codó Formation), Parnaíba (Codó Formation), Araripe (Santana Formation), Tucano (Marizal Formation), Sergipe (Riachuelo Formation) and Camamu (Algodões Formation) basins. Despite irrefutable marine evidence - e.g., dinoflagellates, echinoids, foraminifera, molluscs and fishes, conspicuously present in the Araripe Basin - there are very few paleogeographic reconstructions that include the seaway which is totally ignored in the international literature. The skepticism is even greater in relation to the Tethyan affinity although the evidence has been well documented by molluscs and dinoflagellates, together with ammonoids in the Sergipe Basin. That skepticism may be due to the fact that, in tectonic and geodynamic terms, the opening of the South Atlantic indeed proceeded from south to north, at least in the part that extends from Argentina to the northeastern Brazilian state of Paraíba.