OBJETIVO: Estimar a freqüência da simultaneidade de fatores de risco cardiovascular modificáveis, com e sem inclusão da hipertensão arterial, em uma população miscigenada. MÉTODO: Estudo transversal realizado em 1 298 adultos com idade > 20 anos na Cidade de Salvador, Brasil, em 2000. Foram incluídos oito fatores de risco cardiovascular modificáveis, considerados em qualquer combinação: colesterol total > 240 mg/dL; colesterol das lipoproteínas de alta densidade (HDL-c) <40 mg/dL; triglicerídeos > 200 mg/dL; glicemia > 126 mg/dL + diabetes controlado; índice de massa corporal > 25 kg/m², cintura > 102 cm (homens) e > 88 cm (mulheres), tabagismo e alcoolismo. Os resultados foram estratificados de acordo com o número de fatores de risco simultâneos (de zero a cinco ou mais; e dois ou mais). Os dados foram analisados em termos de proporções estimadas e intervalo de confiança de 95% (IC95%), com e sem inclusão da hipertensão arterial (critério JNC-VI), razões entre proporções e qui-quadrado para proporções como medida de associação. RESULTADOS: Entre os homens (41,4% dos participantes), 7,5% (IC95%: 2,5 a 9,7) não apresentaram fatores de risco; 68,8% (IC95%: 65,0 a 72,8) apresentaram dois ou mais fatores de risco, excluída a hipertensão. Quando a hipertensão foi incluída, 73,4% (IC95%: 69,7 a 77,1) apresentaram dois ou mais fatores de risco. Entre as mulheres, 11,6% não apresentaram fatores de risco. A presença de dois ou mais fatores de risco, excluída a hipertensão, foi observada em 67,7% (IC95%: 64,8 a 71,4). Após inclusão da hipertensão, 71,7% (IC95%: 68,5 a 74,9) das mulheres apresentaram dois ou mais fatores de risco. Foram observadas diferenças significativas entre presença de dois ou mais fatores de risco para homens com até 4 anos de estudo versus homens com 5 a menos de 11 anos de estudo (P <0,05); mulheres com até 4 anos de estudo versus 5 a menos de 11 anos de estudo; mulheres com até 4 anos de estudo versus 11 ou mais anos de estudo (P <0,01); e para mulheres negras versus brancas (P <0,01). CONCLUSÃO: A elevada proporção de múltiplos fatores de risco cardiovascular em Salvador, incluindo-se ou não a hipertensão, especialmente na população de baixa escolaridade e em pessoas negras, sugere a necessidade de estratégias sociais abrangentes para reduzir as desigualdades sociais, promover a saúde, e facilitar o tratamento de fatores de risco cardiovascular.
OBJECTIVE: To estimate the frequency of modifiable cardiovascular risk factors, with and without inclusion of arterial hypertension, occurring simultaneously in a racially-mixed population. METHOD: A cross-sectional study was carried out with 1 298 adults aged > 20 years in the city of Salvador, Brazil, in 2000. Eight modifiable cardiovascular risk factors were assessed, in any combination: total cholesterol > 240 mg/dL; high density-lipoprotein cholesterol (HDL-c) < 40 mg/dL; triglycerides > 200 mg/dL; glycemia > 126 mg/dL + well-controlled diabetes; body mass index > 25 kg/m², waist > 102 cm for males and > 88 cm for females, smoking and alcoholism. The results were stratified according to the number of simultaneous risk factors (zero to five or more and two or more risk factors). The data were analyzed in terms of estimated proportions and 95% confidence intervals (95%CI), with and without the inclusion of arterial hypertension (VI Joint National Committee on Prevention, Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure [JNC-VI], United States of America), ratio of proportions and chi-square for proportions as a measure of association. RESULTS: Among men (41.4% of participants), 7.5% (95%CI: 2.5 to 9.7) did not present risk factors; 68.8% (95%CI: 65.0 to 72.8) presented two or more risk factors, not including hypertension. After inclusion of hypertension, 73.4% (95%CI: 69.7 to 77.1) presented two or more risk factors. Among women, 11.6% did not present risk factors. The presence of two or more risk factors, not including hypertension, was observed in 67.7% (95%CI: 64.8 to 71.4). After inclusion of hypertension, 71.7% (95%CI: 68.5 to 74.9) of the women presented two or more risk factors. Significant differences were observed for the presence of two or more risk factors in men with not more than 4 years of schooling vs. 5 to less than 11 years of schooling (P < 0.05); in women with not more than 4 years of schooling vs. 5 to less than 11 years of schooling; in women with not more than 4 years of schooling vs. 11 or more years of schooling (P < 0.01); and in black vs. white women (P < 0.01). CONCLUSIONS: The high proportion of clustering cardiovascular risk factors in Salvador, with or without hypertension, especially in the population with little schooling and in black individuals, suggests the need for broad social strategies to reduce social inequality, promote health, and facilitate the treatment of cardiovascular risk factors.