Este artigo focaliza um fenômeno recente entre os grupos indígenas do noroeste amazônico: a publicação regular de livros de mitologia e histórias de clãs específicos, pertencentes a diversos grupos da região (Desana, Tukano, Tariano etc). Os livros são de autoria compartilhada, com um homem mais velho narrando o texto a seu filho, que, mais versado no português, traduz a narrativa, contando em geral com o apoio de um antropólogo para transformá-la em texto escrito. Essa iniciativa, respaldada pela Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) e alguns de seus aliados governamentais e não-governamentais, tem despertado interesse no âmbito dos debates atuais em torno dos direitos intelectuais de povos indígenas e tradicionais, e de como proceder ao seu reconhecimento e proteção. Por outro lado, no âmbito local, o uso da escrita e dos livros atualiza uma dinâmica ritual, por meio da qual esses textos eram transacionados oralmente no passado. O artigo levanta hipóteses acerca das formas de subjetivação e objetificação em questão, levando em consideração as relações dos grupos indígenas entre si, e destes com os brancos.
This article focuses on a recent phenomenon among the indigenous groups of the northwest Amazon: the publication of a series of books containing the mythology and history of various specific clans belonging to diverse indigenous groups of the region (Desana, Tukano, Tariano, etc.). The books are co-authored by the indigenous narrators themselves, generally older men, who tell the stories to a son, literate in Portuguese and responsible for translating the narrative, and generally with the assistance of an anthropologist who transforms the narrative into a written text. This initiative, supported by the regional indigenous federation (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro - FOIRN ) and its governmental and non-governmental partners, has awakened interest on the issues and fostered debates surrounding the recognition and protection of intellectual rights of indigenous and traditional populations. On the other hand, in the local context, the use of writing and books has modernized the traditional ritual dynamic in which these texts have been orally transmitted. The article raises hypotheses on the forms of subjectification and objectification in question, taking into consideration the relationships of indigenous groups among themselves as well as with the so-called 'white' Brazilian society.
Cet article aborde un phénomène récent entre les groupes indigènes du Nordouest amazonien: la publication régulière de livres de mythologie et de clans spécifiques, appartenant à divers groupes de la région (Desana, Tukano, Tariano, etc). Les livres sont écrits conjointement entre un homme plus âgé, qui raconte le texte à son fils, et celui-ci qui, connaissant mieux le portugais, traduit la narrative avec, en général, un anthropologue, qui l'aide à la transformer en un texte écrit. Cette initiative, soutenue par la Fédération des Organisations Indigènes du Rio Negro (FOIRN ) et certains de ses alliés gouvernementaux et non-gouvernementaux, soulève l'intérêt dans le cadre des débats actuels qui portent sur les droits intellectuels des peuples indigènes et traditionnels, et sur comment procéder à leur reconnaissance et protection. Par ailleurs, dans un cadre local, l'emploi de l'écriture et des livres met à jour une dynamique rituelle par laquelle ces textes étaient transmis oralement dans le passé. L'article propose des hypothèses sur les formes de subjectivation et d'objectivation en question, tenant en compte les rapports des groupes indigènes entre eux et envers les blancs.