RESUMO A síndrome de burnout (esgotamento) atinge mais de 70% dos médicos residentes em todo o mundo. Apesar dos dados alarmantes, ainda podemos caracterizá-la como uma doença negligenciada. Alguns trabalhos descrevem estratégias de enfrentamento do problema, porém poucos serviços as adotam na prática. Objetivo Determinar a prevalência da síndrome entre residentes de Pediatria de um hospital terciário brasileiro e descrever a estratégia de grupo psicodinâmico implementada localmente com base nos resultados. Metodologia Estudo de prevalência transversal com aplicação da escala Maslach Burnout Inventory aos residentes, seguida de planejamento e execução de um projeto piloto de intervenção, de grupo, na perspectiva Balint. Resultados De 23 residentes de primeiro e segundo ano de Pediatria em dezembro de 2016, 95% eram do sexo feminino, a média de idade era de 27 anos, e a média da carga horária trabalhada era de 75 horas semanais, sendo que apenas três residentes se dedicavam exclusivamente à residência médica. Encontramos uma prevalência de 87% de residentes que apresentavam critérios para síndrome de burnout, sendo 74% com exaustão, 57% com baixa realização profissional e 39% despersonalizados. O grupo de intervenção ocorreu entre maio e dezembro de 2017 com outros seis residentes de primeiro ano que atendiam no Ambulatório Geral de Pediatria às sextas-feiras. A periodicidade foi de uma hora a cada 15 dias. A participação foi voluntária, e os encontros aconteciam segundo o conceito de “espaço protegido”. As discussões eram baseadas em casos clínicos e abordavam também a relação médico-família e as dinâmicas hospitalares. Conclusão A elevada prevalência da síndrome de burnout deste trabalho não foi uma novidade frente aos dados da literatura nacional e internacional. Estabelecemos, porém, uma discussão local que resultou numa estratégia que visa ao bem-estar dos residentes e proporciona oportunidade de aprendizado do reconhecimento das reações pessoais, dos pacientes e de toda a equipe de saúde. Entendemos que os benefícios se dão, finalmente, na qualidade da assistência oferecida aos pacientes.
ABSTRACT Burnout syndrome affects more than 70% of resident physicians worldwide. Despite his alarming statistic, it can still be characterized as a neglected disease. Some studies have described coping strategies, but few services adopt them in practice. The aims of this study were to determine the prevalence of Burnout syndrome among pediatric residents of a Brazilian tertiary hospital, and to describe a psychodynamic group strategy that was implemented locally, based on the results. Methodology a cross-sectional prevalence study using the Maslach Burnout Inventory scale, followed by the planning and execution of a pilot intervention group, from the Balint perspective. Results of 23 first and second year pediatric residents in December 2016, 95% were female; the mean age was 27 years, and the average workload was 75 hours per week. Only 3 residents were exclusively dedicated to the medical residency. The prevalence of burnout syndrome was 87%, with exhaustion in 74%, low professional achievement in 57%, and depersonalization in 39%. The intervention group took place between May and December 2017, with six other first-year residents attending the General Pediatric Outpatient Clinic on Fridays. Meetings of the group took place every 15 days, lasted one hour, and adhered to the concept of “protected space”. Participation in the meetings was voluntary. The discussions were based on clinical cases, also addressing the doctor-family relationship and the hospital dynamics. Conclusion The high prevalence of burnout syndrome found in this study was comparable to data from national and international literature. However, our study established a local discussion that resulted in a strategy aimed at the well-being of residents and provided an opportunity to learn to recognize personal reactions, as well as those of patients and the whole healthcare team. We also hope this study will bring benefits for the quality of care provided to patients.