Resumo Introdução: Embora raro, o acidente vascular cerebral (AVC) em idade pediátrica é mais comum do que se pensa. Os défices podem não ser evidentes a curto prazo mas surgir à medida que aumentam as exigências do desenvolvimento psicomotor, educacionais e sociais. Objetivos: Caracterizar a população pediátrica com AVC seguida na consulta de Medicina Física e de Reabilitação (MFR) de um hospital terciário, comparando os resultados com os previamente publicados na literatura, e rever a literatura relativamente aos melhores cuidados de reabilitação para uma intervenção mais eficaz. Material e Métodos: Foi realizado um estudo retrospetivo de doentes com AVC seguidos em consulta de MFR Pediátrica, à data da primeira observação, ao longo de um período de 12 meses. Foram analisadas as variáveis género, idade, tipo de AVC, território vascular, fatores de risco, funcionalidade, recorrência do evento e mortalidade. Foi efetuada uma pesquisa bibliográfica no PubMed e Medline utilizando as palavras-chave ‘stroke’, ‘pediatric’, ‘perinatal’, ‘neuroplasticity’, ‘functionality’ e ‘rehabilitation’. Os critérios de inclusão compreenderam meta-análises, revisões sistemáticas e revisões, escritas em português e inglês, focando estudos em humanos. Resultados: O estudo incluiu 42 doentes, 25 dos quais do sexo masculino (60%). Foram registados 33 casos de AVC perinatal (13 no período pré-natal e 20 até aos 28 dias de vida). Foram registados 35 casos (83%) de AVC isquémico, sendo a artéria cerebral média o território vascular mais afetado em 29 (69%) deles. Cinquenta por cento dos doentes tinham fatores de risco conhecidos, 21% dos quais prematuridade. Cinquenta a 75% dos doentes apresentavam altos níveis de funcionalidade. Não foram registadas recorrências de AVC ou mortes. Os cuidados de reabilitação devem ser implementados o mais rapidamente possível. São necessárias orientações baseadas em evidência, ainda em falta para esta população. Conclusões: Embora incomum em idade pediátrica, o AVC é uma das principais causas de morbilidade e mortalidade. O diagnóstico é desafiante, pois os sintomas habitualmente são subtis e mimetizam outras doenças mais frequentes nesta faixa etária. A referenciação atempada para o médico fisiatra possibilita a integração da criança num programa de reabilitação, com otimização da neuroplasticidade e máxima participação em todas as atividades.
Abstract Introduction: Although rare, pediatric stroke is more common than one may think. Deficits may not be evident in the short term but emerge months or years later, when psychomotor development, educational, and social requirements increase. Aims: To characterize the pediatric population with stroke followed at the Physical and Rehabilitation Medicine (PRM) consultation in a tertiary center and compare it with data in the literature and review the evidence on pediatric stroke rehabilitation care. Material and Methods: This was a retrospective study focusing on the first observation of stroke patients followed at a pediatric PRM consultation over 12 months. Gender, age, type of stroke, vascular territory, risk factors, functionality, event recurrence, and mortality were assessed. A bibliographic search was conducted on PubMed and Medline using the keywords ‘stroke’, ‘pediatric’, ‘perinatal’, ‘neuroplasticity’, ‘functionality’, and ‘rehabilitation’. Inclusion criteria comprised meta-analysis, systematic review, and review type of studies, written in Portuguese and English languages, and focusing human studies. Results: The study included 42 patients, 25 of whom were male (60%). Perinatal stroke was reported in 33 patients (13 in the prenatal period and 20 up to 28 days of life). Ischemic stroke was reported in 35 cases (83%), with the middle cerebral artery being the most affected vascular territory in 29 cases (69%). Fifty percent of patients had known risk factors, specifically prematurity in 21%. Fifty to 75% of patients had high functionality levels. No stroke recurrence or deaths were reported during the study period. Rehabilitation care should be implemented as soon as possible. Evidence-based guidance is still lacking for this population. Conclusions: Stroke, although uncommon in the pediatric population, is a major cause of morbidity and mortality. Diagnosis is challenging, as symptoms are often subtle and mimic other more frequent diseases in this age group. Timely referral to the physiatrist allows integration of the child into a rehabilitation program, optimizing neuroplasticity and improving participation in several activities.