Resumo O presente trabalho tem como objetivo analisar as percepções de pais e tutores sobre o uso de dados das crianças pelas organizações que compõem o chamado capitalismo de vigilância. Para tanto, desenvolveu-se uma pesquisa quali-quanti, que contou com a participação de 565 respondentes na parte quantitativa, sendo que 107 deles preencheram uma pergunta aberta optativa, correspondente à etapa qualitativa, comentando sobre suas percepções ou preocupações acerca da utilização de dados por empresas com foco no público infantil. Os resultados quantitativos apontaram que, mesmo percebendo um aumento no volume de uso de mídias e dispositivos digitais pelas crianças, pais e tutores raramente (ou nunca) leem os termos de consentimento. Além disso, a análise de discurso das respostas à pergunta aberta, na parte qualitativa do estudo, mostrou que os respondentes se silenciam a respeito da responsabilidade das organizações que compõem o capitalismo de vigilância. Dessa forma, atribuem a si mesmos, a terceiros ou a situações contextuais as eventuais distorções no uso de dispositivos e mídias digitais pelas crianças, bem como na expropriação e na exploração dos dados pelas organizações. Para o campo da administração, os achados representam um avanço nas discussões sobre o lado obscuro (darkside) da digitalização, especialmente no Brasil, onde o tema permanece inédito.
Abstract This study analyzes the perceptions of parents and guardians about the use of children’s data by organizations that make up the so-called surveillance capitalism. We developed a quali-quanti survey, which counted 565 respondents in the quantitative part, 107 of whom filled in an open-ended questionnaire corresponding to the qualitative stage of the research, commenting on their perceptions or concerns about the use of data by companies whose audience is children. The quantitative results showed that even noticing an increase in the volume of use of digital media and devices by children, parents, and guardians never or almost never read the consent form. Furthermore, the discourse analysis of the answers to the open questionnaire in the qualitative part of the research showed that the participants are silent about the responsibility of organizations that make up surveillance capitalism. Thus, parents and guardians attribute to themselves, third parties, or contextual situations any distortions in the use of digital devices and media by children and in the expropriation and exploitation of data by organizations. For the field of business, the findings represent an advance in discussions on the dark side of digitization, especially in Brazil, where the topic is still unpublished.
Resumen Este estudio tuvo como objetivo analizar las percepciones de padres y tutores sobre el uso de datos sobre los niños por parte de las organizaciones que conforman el llamado capitalismo de vigilancia. Para ello, se desarrolló una encuesta cuali-cuanti, que contó con la participación de 565 encuestados en la parte cuantitativa, de los cuales 107 respondieron una pregunta abierta opcional, correspondiente a la etapa cualitativa, comentando sus percepciones o inquietudes sobre el uso de datos por empresas que se enfocan en la audiencia infantil. Los resultados cuantitativos mostraron que, aun notando un aumento en el volumen de uso de medios y dispositivos digitales por parte de los niños, sus padres y tutores nunca o casi nunca leen los términos de consentimiento. Además, el análisis del discurso de las respuestas a la pregunta abierta, en la parte cualitativa de la investigación, mostró que los participantes guardan silencio sobre la responsabilidad de las organizaciones que conforman el capitalismo de vigilancia. Así, atribuyen a sí mismos, a terceros o a situaciones contextuales las distorsiones en el uso de dispositivos y medios digitales por parte de los niños, así como en la expropiación y explotación de datos por parte de las organizaciones. Para el campo de la administración, los hallazgos representan un avance en las discusiones sobre el lado oscuro de la digitalización, especialmente en Brasil, donde el tema permanece inédito.