Resumo O artigo aborda os impactos da violência armada, a partir da Atenção Primária em Saúde, em um bairro do município do Rio de Janeiro, Brasil. Trata-se de estudo qualitativo exploratório desenvolvido em dois serviços com o objetivo de identificar os principais tipos de violência, seus impactos e as estratégias utilizadas para enfrentamento do fenômeno. A produção de informações incluiu coleta de dados nos registros dos serviços, realização de entrevistas semi-estruturadas, grupos focais e seminário de devolutiva. A violência armada, dentre todas as expressões de violência, foi identificada como uma das maiores preocupações de profissionais de saúde e usuários dos serviços, em função de sua intensa ocorrência e gravidade de suas consequências sob a saúde. Destaca-se seu impacto nas estratégias de enfrentamento à violência e a dificuldade em visibilizar o fenômeno. Considera-se que esse tipo de violência, predominante nos territórios negros da cidade, é legitimada pelo racismo estrutural, sendo a política pública de segurança – baseada no ideário de guerra às drogas e no enfrentamento bélico com grupos armados que atuam no comércio varejista de drogas ilícitas – expressões do racismo de estado e da necropolítica.
Abstract The paper addresses the impacts of armed violence, based on Primary Health Care, in a neighborhood in the city of Rio de Janeiro, Brazil. This is a qualitative exploratory study developed in two services aiming to identify the main types of violence, their impacts and the strategies used to cope with the phenomenon. The production of information included data collection in the service records, conducting semi-structured interviews, focus groups and feedback seminar. Armed violence, among all expressions of violence, was identified as one of the major concerns of healthcare professionals and users of services, due to its intense occurrence and the severity of its consequences on health. Its impact on strategies to cope with the violence and the difficulty in making the phenomenon visible are highlighted. It is considered that this type of violence, prevalent in the black territories of the city, is legitimized by structural racism, being the public security policy – based on the ideal of war on drugs and on the military confrontation with armed groups that operate in the retail trade of illicit drugs – expressions of state racism and necropolitics.