Este texto tem por objetivo apresentar os resultados de uma pesquisa cujo intuito foi compreender a relação entre o tempo escolar, os outros tempos sociais e as temporalidades dos sujeitos, a partir de narrativas biográficas de professoras, em duas escolas com classes multisseriadas, e sujeitos das comunidades de Botelho e Praia Grande, em Ilha de Maré (Bahia). A análise do campo empírico fez emergir o problema do tempo escolar reduzido a ritmo, ora compreendido como uma propriedade individual, ora como uma imposição de um tempo hegemônico, o do relógio. Para problematizar essa noção, foram utilizados como referencial teórico os trabalhos de Elias (1993), Faraco (2010a) e Bakhtin (2003). Com base na relação entre tempo e diferença, retomou-se a discussão com Bakhtin (2003; 2010) para, junto com Levinas (2011a, 2011b), propor outra concepção, a de tempo como simultaneidade, concebida como coexistência e interação. A pesquisa empírica adotou, como abordagem metodológica, a narrativa (auto)biográfica que se constitui na oportunidade do outro dizer de si e, ao fazê-lo, por meio da entrevista narrativa, deixar entrever traços de uma experiência ao mesmo tempo pessoal e social. A pesquisa concluiu que a compreensão do tempo escolar, de um lado, depende de um olhar atento para os outros tempos sociais que atravessam a escola, e, de outro, de uma atenção especial às interações realizadas entre os sujeitos no interior da sala de aula. Afinal, o tempo escolar é acontecimento que se dá no encontro com o outro.
This text aims to present the results of a research whose objective was to understand the relationship between school time, other social times, and the temporality of subjects, using biographical narratives of teachers in two schools with multigrade classes, and subjects of the communities Botelho and Praia Grande in Ilha da Maré (Bahia). The analysis of empirical field has unveiled the problem of school time reduced to rhythm, sometimes understood as an individual property, sometimes as an imposition of a hegemonic time, the clock time. To discuss this notion, we used as theoretical framework the works of Elias (1993), Faraco (2010a), and Bakhtin (2003). Based on the relationship between time and difference, we considered the discussion with Bakhtin (2003; 2010) and Levinas (2011a, 2011b) to propose another conception: time as simultaneity, conceived as coexistence and interaction. The methodological approach adopted in this empirical research was (auto)biographical narratives, which constitute them selves in the opportunity of the others to talk about themselves and, in doing so, through narrative interviews, to offer a glimpse of a personal and social experience. The research concluded that the understanding of school time, on the one hand, depends on a careful look at the other social times which cross school life and, on the other hand, on a special attention to interactions between subjects within the classroom. After all, school time is an event that occurs in the encounter with the other.