O artigo procura situar o tema da inteligência humana na perspectiva psicanalítica, em especial, da contribuição de Silvia Bleichmar, explorando como a mente humana desenvolve a atividade intelectual a partir de seus estados embrionários. É reconhecida a contribuição da epistemologia genética desenvolvida por Jean Piaget que nos permite compreender a capacidade de construir sistemas simbólicos a partir de esquematismos sensório-motores. São também salientadas algumas convergências entre o pensamento piagetiano e o pensamento psicanalítico. O que é enfatizado neste artigo, entretanto, é que a contribuição psicanalítica sobre os primórdios da inteligência tem sido bem menos estudada, embora de grande interesse teórico e clínico. A inspiração teórica deste artigo, a partir dos estudos de Bleichmar, apoia-se fortemente em Freud, mas fundamenta-se de forma mais decisiva na orientação da escola francesa de Jean Laplanche. O artigo procura mostrar que, para alcançar a objetividade das estruturas lógicas, caracterizadas pelas categorias da lógica aristotélica - classificação, espaço, tempo, causalidade e negação - o psiquismo realiza um ativo trabalho de ligação dentro da mente que se inicia nas primeiras inscrições do outro humano sexualizado e que necessita implantar a repressão originária, única operação capaz de organizar a lógica do pensamento secundário. Enfatiza, ao final, que a contribuição sobre uma teoria das origens do psiquismo, no que concerne ao desenvolvimento da inteligência, permite ajudar nos estudos sobre os problemas de aprendizagem, diferenciando as dificuldades secundárias à construção do conhecimento dos transtornos que remetem ao não constituído do ego.
This paper aims to discuss human intelligence in the psychoanalytical perspective, particularly considering the contribution of Silvia Bleichmar who explores how human mind develops the intellectual activity from the embryonic states. It is recognized the contribution of genetic epistemology developed by Jean Piaget which allows to understand the capacity to build symbolic systems from sensory-motor schemes. There is also pointed some convergence between the genetic psychology and the psychoanalytic thought. What is stressed in this article, however, is that the contribution of psychoanalysis about the origins of intelligence has been less studied, although it is of most interest both theoretically and clinically. The theoretical inspiration of the paper relies on Freud's theory but it is more definitely grounded on the French school of Jean Laplanche. It tries to show that to reach the objectivity of logical structures, characterized by the categories of the Aristotelian logic - classification, space, time, causality, denial - the psychism does an active work of mind connection which starts in the first inscriptions of the other sexualized human and has to implant the originary repression, the only one able to organize the logic of the secondary thought. It stresses, at the end, that the contribution about a theory of the origins of psychism, concerning the development of intelligence is of great help in the studies about learning disabilities, as it differentiates learning difficulties due to secondary causes of the disorders which address to the lack of constitution of the ego.