Resumo O objetivo do artigo é abordar a formação discursiva do “agressor de mulheres” como objeto de intervenção da justiça penal. A metodologia empregada adapta algumas das contribuições de Dominique Maingueneau para a análise do discurso sobre a heterogeneidade discursiva: a intertextualidade e interdiscursividade. O estudo confronta campos discursivos distintos - o feminista e o criminológico - para compreender como, dessa interpenetração, emerge o “agressor de mulheres” como objeto de intervenção penal. Baseado na análise de um caso de violência doméstica na cidade de Recife, o presente estudo explora o debate sobre estupro praticado por conhecidos, denunciado no campo discursivo feminista desde os anos de 1960 e que, ao atravessar o sistema de segurança e de justiça penal, aciona outro campo discursivo, o criminológico punitivista. Este último, individualizando responsabilidades, reifica, na figura do “agressor de mulheres”, o crime e a própria ordem patriarcal. Essa figura de “agressor de mulheres” termina por se constituir como a chave que permite transitar da denúncia feita pela “vítima” para a efetiva incriminação em circunstâncias bastante ambíguas de acusação. Assim, uma figura de caráter excepcional passa a incorporar e sustentar, naquela interpenetração de distintos campos discursivos, a própria ordem patriarcal. agressor mulheres penal interdiscursividade Recife conhecidos 196 punitivista último responsabilidades reifica mulheres, , patriarcal vítima “vítima acusação Assim sustentar 19 1
Abstract This article aims to address the discursive formation of the “women abuser” as an object of criminal justice intervention. The methodology used adapts some of Dominique Maingueneau's contributions for discourse analysis. The study confronts distinct discursive fields - feminist and criminological - to understand how, from this interpenetration, the “women abuser” emerges as an object of criminal intervention. Based on the analysis of a case of domestic violence in Recife, the present study explores the debate on rape practiced by acquaintances, denounced in the feminist discursive field since the 1960s and that, when crossing the security and criminal justice system, triggers another discursive field - the punitive criminology - which, individualizing responsibilities, reifies, in the figure of the “women abuser”, the crime and the patriarchal order itself. This figure of “women abuser” ends up being the key that allows the transition from the complaint made by the “victim” into the effective incrimination in very ambiguous circumstances of accusation. Thus, a figure of exceptional character begins to incorporate (embody) and sustain, in that interrelation of different discursive fields, the patriarchal order itself. women abuser intervention Maingueneaus Maingueneau s how interpenetration Recife acquaintances system which responsibilities reifies abuser, , itself victim “victim accusation Thus embody (embody sustain