RESUMO A expansão da fronteira agrícola amazônica representa a mais ampla mudança na cobertura e uso da terra no mundo contemporâneo, e ameaça a integridade de ecossistemas de riachos que abrigam a maior diversidade de peixes de água doce do planeta. Nosso objetivo foi testar as hipóteses de que o desmatamento afeta a abundância, a riqueza e a estrutura taxonômica de assembleias de peixes em riachos de cabeceira na bacia do alto rio Xingu, no sudeste da Amazônia. Por meio de amostragens padronizadas realizadas em riachos de primeira ordem, demonstramos que o desmatamento influencia fortemente a estrutura das assembleias de peixes. Riachos em áreas desmatadas tiveram o dobro da abundância de peixes que riachos em áreas florestadas. Essas diferenças na estrutura das assembleias foram em grande parte causadas pelo aumento na abundância de algumas poucas espécies, já que nenhuma influência do desmatamento na riqueza de espécies foi observada. A cobertura de dossel sobre os riachos foi o mais forte preditor da estrutura das assembleias, possivelmente por uma combinação de efeitos diretos e indiretos relacionados à provisão de detritos florestais, recursos alimentares, morfologia dos canais, e regulação micro-climática. Dada a natureza dinâmica da mudança na cobertura e uso da terra na região, este artigo é uma contribuição importante para a compreensão dos efeitos a longo prazo do desmatamento nos peixes de riachos amazônicos e, portanto, para sua conservação.
ABSTRACT The expansion of the Amazonian agricultural frontier represents the most extensive land cover change in the world, detrimentally affecting stream ecosystems which collectively harbor the greatest diversity of freshwater fish on the planet. Our goal was to test the hypotheses that deforestation affects the abundance, richness, and taxonomic structure of headwater stream fish assemblages in the Upper Xingu River Basin, in Southeastern Amazonia. Standardized sampling surveys in replicated first order streams demonstrated that deforestation strongly influences fish assemblage structure. Deforested stream reaches had twice the fish abundance than reference stream reaches in primary forests. These differences in assemblage structure were largely driven by increases in the abundance of a handful of species, as no influence of deforestation on species richness was observed. Stream canopy cover was the strongest predictor of assemblage structure, possibly by a combination of direct and indirect effects on the provision of forest detritus, food resources, channel morphology, and micro-climate regulation. Given the dynamic nature of change in land cover and use in the region, this article is an important contribution to the understanding of the effects of deforestation on Amazonian stream fish, and their conservation.