RESUMO CONTEXTO: Esclerodermia ou esclerose sistêmica progressiva caracteriza-se por um processo inflamatório crônico com proliferação e fibrose do tecido conjuntivo e uma deposição excessiva de colágeno e matriz extracelular na pele, musculatura lisa e vísceras. A musculatura lisa mais envolvida é a esofágica e a disfagia é o sintoma mais comumente relatado. Entretanto, o esfíncter anal interno também pode ser acometido por essa degeneração e fibrose ocasionando incontinência anal nos pacientes portadores de esclerodermia. Isso pode ser omitido pelo paciente, exceto quando questionado de forma direta. OBJETIVO: Analisar a função e anatomia anorretal através do escore de incontinência anal de Cleveland Clinic Florida, manometria anorretal e ultrassom endoanal em pacientes do sexo feminino portadoras de esclerodermia e sintomas de incontinência anal atendidas no ambulatório de Fisiologia Colorretoanal no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP). RESULTADOS: Treze pacientes do sexo feminino foram avaliadas com média de idade de 55,77 anos (±16,14; 27-72 anos) e duração média da doença de 10,23 anos (±6,23; 2-23 anos). O índice de incontinência anal teve variação de 1-15, sendo que sete (53,8%) pacientes apresentavam índice inferior a 7; três (23,1%) entre 8 e 13; e três (23,1%) superior a 14, correspondendo à incontinência anal leve, moderada e grave, respectivamente. Dez (76,92%) pacientes apresentavam hipotonia do esfíncter anal interno. O estudo da ultrassonografia endoanal de três dimensões demonstrou afilamento com atrofia do esfíncter anal interno em seis casos e defeito muscular em três pacientes. CONCLUSÃO: O prejuízo funcional e anatômico do complexo esfincteriano anorretal é um importante fator a ser analisado em pacientes portadores de esclerose sistêmica progressiva e isso não pode ser subestimado.
ABSTRACT BACKGROUND: Scleroderma or progressive systemic sclerosis is characterized by a chronic inflammatory process with proliferation of fibrous connective tissue and excessive deposition of collagen and extracellular matrix in the skin, smooth muscle, and viscera. The smooth muscle most involved in scleroderma is that of the esophagus, and dysphagia is the most commonly reported symptom. However, the internal anal sphincter may also be impaired by degeneration and fibrosis, leading to concomitant anal incontinence in scleroderma patients. These patients may neglect to complain about it, except when actively questioned. OBJECTIVE: To assess anorectal function and anatomy of female scleroderma patients with symptoms of anal incontinence through Cleveland Clinic Florida Fecal Incontinence Score (CCFIS), anorectal manometry and endoanal ultrasound at the outpatient clinic of colorectal and anal physiology, Clinics Hospital, University of São Paulo Medical School (HC-FMUSP). METHODS: Female scleroderma patients were prospectively assessed and questioned as to symptoms of anal incontinence. The anorectal manometry and endoanal ultrasound results were correlated with clinical data and symptoms. RESULTS: In total, 13 women were evaluated. Their mean age was 55.77 years (±16.14; 27-72 years) and their mean disease duration was 10.23 years (±6.23; 2-23 years). All had symptoms of fecal incontinence ranging from 1 to 15. Seven (53.8%) patients had fecal incontinence score no higher than 7; three (23.1%) between 8 and 13; and three (23.1%) 14 or higher, corresponding to mild, moderate, and severe incontinence, respectively. Ten (76.92%) patients had hypotonia of the internal anal sphincter. Three-dimensional endoanal ultrasound showed tapering associated with muscle atrophy of the internal sphincter in six cases and previous muscle defects in three cases. CONCLUSION: A functional and anatomical impairment of the sphincter is an important factor to assess in patients with progressive systemic sclerosis and it should not be underestimated.