Introduction: The healthcare system is structured to prioritize Primary Health Care (PHC) as the main gateway for accessing care while reserving emergency services for situations requiring immediate attention. However, people's choices often deviate from what one would expect based on their health needs, leading to overburdened emergency services and reduced clinical care effectiveness and efficiency. Objective: This study aims to identify the motivations behind non-urgent health issues leading users to seek care at an emergency department. Method: A qualitative study involving semi-structured interviews was conducted in 2019 with users of an emergency department in Vitória-ES. The collected data underwent thematic analysis. Results: The study included 29 participants, predominantly women, of Black or mixed race, and under 30 years old, who reported issues related to pain or respiratory problems. Notably, participants perceived emergency services as places where they could readily obtain immediate and effective care. Accessing PHC was seen as challenging, and they anticipated that their needs (appointments, tests, medications) would not be promptly met within PHC. Conclusion: Utilizing emergency services for non-urgent concerns is a multifaceted and complex public health problem that extends beyond PHC access difficulties to encompass individual and collective understanding of PHC's role and emergency care. Merely expanding PHC is insufficient; reframing this level care is essential, particularly among younger individuals.
Introdução: o sistema de saúde é organizado de uma forma que prevê a Atenção Primária à Saúde (APS) como a porta de entrada preferencial para o cuidado, destinando-se os serviços de emergência para situações que exigem atendimento imediato. Contudo, o caminho percorrido pelas pessoas nem sempre reflete o que se esperaria pelo perfil de sua necessidade de saúde, resultando em sobrecarga e baixa efetividade e eficiência dos serviços de emergência. Objetivo: identificar motivações para uso pronto-atendimentos por problemas de saúde não urgentes em usuários deste serviço. Método: estudo qualitativo baseado em entrevistas semiestruturadas realizadas em 2019 com usuários de um pronto-atendimento do município de Vitória-ES. Os dados foram submetidos à análise temática derivada da análise de conteúdo. Resultados: Participaram 29 pessoas, sendo a maioria mulheres, negras ou pardas, com menos de 30 anos, queixando-se de dor ou problema respiratório. Observou-se, dentre outras coisas, que os entrevistados percebem os serviços urgência e emergência como aqueles onde obterão cuidados imediatos com maior facilidade e resolubilidade, já que é difícil acessar a APS e nela muito provavelmente não terão tudo aquilo que consideram necessário para manejar seu problema (consulta, exames e medicações) de uma maneira imediata, rápida e resolutiva. Conclusão: A utilização de pronto-atendimentos por motivos não urgentes é uma questão complexa. Envolve não apenas a dificuldade de acesso à APS, mas a própria compreensão individual e coletiva do papel da APS e do pronto-atendimento. Não basta, portanto, expandir a APS, mas é preciso também ressignificá-la, em especial junto aos mais jovens.