Resumo No artigo “Doente de Brasil” (2019), Eliane Brum expõe como os brasileiros têm adoecido mental e fisicamente diante do crescente autoritarismo político-social, desde 2016, e da sua consolidação na figura do atual presidente. Brum se pergunta como combater esse estado de coisas que adoece indivíduos e coletividade; e a resposta surge nos últimos parágrafos, apontando para a cultura como antídoto. Não uma cultura das elites, mas, sim, “aquilo que nos faz humanos”, utilizando a palavra como mediadora e reamarrando laços para fazer comunidade. Atos diários de resistência, tão recorrentes na história afro-brasileira, compõem uma das temáticas de Reza de mãe (2016), coletânea de contos de Allan da Rosa. Enquanto as histórias gravitam em torno do duro cotidiano dos afro-brasileiros em comunidades de São Paulo, dois contos trabalham ainda a reapropriação feminina do cotidiano, não apenas como modo de resistência, mas também de busca por “aquilo que nos faz humanos”. Diante de tal contexto, este artigo dialoga com a teoria desenvolvida por Michel de Certeau em A invenção do cotidiano (1980) para analisar as personagens femininas afro-brasileiras dos contos “Pode ligar o chuveiro?” e “Reza de mãe”. Ao conferir centralidade a tais personagens, os contos estabelecem um lugar de fala no qual a mulher negra e periférica se delineia agente da (sua) história. São tecidas, por fim, considerações a respeito dos diferentes gêneros literários presentes na coletânea, uma vez que o poema introdutório “Desculpa perguntar” e o apólogo “O barco” funcionam como moldura temática ao abordarem opressão e resistência.
Abstract In her article “Doente de Brasil” (2019), Eliane Brum reveals how Brazilians have gotten mentally and physically sick due to the increasing socio-political authoritarianism since 2016 and its consolidation with the new president. Brum discusses how to fight this state of affairs that is sickening individuals and the collectivity. Her answer argues for culture as an antidote. Not the culture of elitism, but one “that makes us human”, utilizing the word as a mediator and reestablishing ties to build community. Daily acts of resistance, so recurrent in Afro-Brazilian history, compose one of the thematic areas in Reza de mãe (2016), a short story collection by Allan da Rosa. While the stories revolve around Afro-Brazilians’ harsh everyday life in poor communities in São Paulo, two short stories address the female reappropriation of everyday life not only as a means of resistance, but also as a search for that which “makes us human”. Given this context, this article dialogues with the theory developed by Michel de Certeau in The Practice of Everyday Life (1980) to analyze the Afro-Brazilian female characters in the stories “Pode ligar o chuveiro?” and “Reza de mãe”. By granting central stage to the characters, the stories establish a locus of enunciation in which black and peripheral women become agents of their own story/history. I also raise considerations regarding the formative role of distinct literary genres, as the opening poem “Desculpa perguntar” and the apologue “O barco” provide a thematic frame for addressing oppression and resistance.
Resumen En el artículo “Doente de Brasil” (2019), Eliane Brum revela cómo los brasileños se han enfermado mentalmente y físicamente frente al creciente autoritarismo político-social, desde 2016, y a su consolidación en la figura del actual presidente. Brum se pregunta cómo combatir este estado de cosas que enferma a los individuos y a la colectividad. La respuesta apunta a la cultura como antídoto. No una cultura de las élites, sino “lo que nos hace humanos”, utilizando la palabra como mediadora y estrechando lazos para construir comunidad. Actos diarios de resistencia, tan recurrentes en la historia de los afrobrasileños, componen una de las temáticas de Reza de mãe (2016), colección de cuentos de Allan da Rosa. Mientras las historias gravitan alrededor de la dura cotidianidad de los afrobrasileños en comunidades de São Paulo, dos de los cuentos trabajan la reapropiación femenina de lo cotidiano no sólo como medio de resistencia, sino también en búsqueda de “lo que nos hace humanos”. Delante de dicho contexto, este artículo dialoga con la teoría desarrollada por Michel de Certeau en La invención de lo cotidiano (1980) para analizar los personajes femeninos afrobrasileños de los cuentos “Pode ligar o chuveiro?” y “Reza de mãe”. Al conferir centralidad a estos personajes, los cuentos establecen un lugar de enunciación en el que la mujer negra y periférica se delinea agente de la (su) historia. Además, haré consideraciones sobre los diferentes géneros literarios presentes en la colección, puesto que el poema introductorio “Desculpa perguntar” y el apólogo “O barco” sirven como marco temático al abordar la opresión y la resistencia.