Os produtos das atividades de mineração têm grande relevância econômica no Estado de Minas Gerais, Brasil. No entanto, seus inúmeros danos à biota, incluindo a fauna edáfica, resultam na necessidade de recuperação e biomonitoramento dessas áreas e do seu entorno. Considerando a importância ecológica e o potencial bioindicador das minhocas, o objetivo deste estudo foi avaliar a toxicidade de arsênio presente em solos do entorno de minerações de ouro, nas bacias dos rios Doce e São Francisco, a oligoquetas da espécie Eisenia andrei Bouché. Amostras de solos dessas áreas foram caracterizadas em relação às suas propriedades físicas e químicas, incluindo os metais Fe, Al, Cu, Ni, Zn e Mn e do metaloide As; com elas, foram conduzidos bioensaios, que avaliaram a sobrevivência, reprodução e variação da biomassa dos organismos. Também foram realizados testes de sensibilidade dessa espécie ao As adicionado a solo artificial tropical e em solo natural. Houve evidente efeito tóxico sobre a reprodução dessa espécie, que esteve altamente correlacionado com as concentrações de As nas amostras (r = -0,80). Amostras de solos naturais de locais avaliados nas duas áreas apresentaram concentrações de As acima do limite estipulado pela Resolução Conama nº 420 de 2009, chegando a 2.388,2 mg kg-1. A CL50 do As em solo artificial tropical (207,4 mg kg-1) foi seis vezes menor que a do solo natural (1.248,1 mg kg-1). A menor biodisponibilidade do As nos solos naturais foi atribuída a sua associação com o minério de Fe presente nas amostras. Concluiu-se que os solos do entorno de áreas de mineração causaram toxicidade crônica a E. andrei, em termos de sua reprodução, o que demonstrou o potencial de danos dessas atividades sobre a fauna edáfica dessas áreas. O estudo também forneceu informações ecotoxicológicas que podem ser úteis em avaliações de risco ambiental em solos tropicais.
Products from mining operations are of great economic importance to the state of Minas Gerais, Brazil. However, due to the extensive damage they may cause to biota, including soil fauna, recovery and biomonitoring of these areas and their surroundings are necessary. Considering the ecological importance of earthworms and their potential as bioindicators, the aim of this study was to evaluate the toxicity of arsenic to earthworms of the species Eisenia andrei Bouché in soils around gold mining operations in the Doce and São Francisco River Basins. Soil samples of these areas were characterized in terms of physical and chemical properties, including Fe, Al, Cu, Ni, Zn, Mn, and As contents. Bioassays evaluating the survival, reproduction, and biomass variation of organisms were also carried out in these samples. Tests were also conducted of E. andrei sensitivity to As added to artificial tropical soil and natural soil. A notable toxic effect on reproduction was highly correlated with high As concentrations in the samples (r = -0.80). These concentrations exceeded the limits of legislation (Conama Resolution no. 420/2009) in both areas, reaching 2,388.2 mg kg-1. Arsenic LC50 in artificial tropical soil (207.4 mg kg-1) was six times lower than in natural soil (1,248.1 mg kg-1). The lower bioavailability of As in natural soils was attributed to its association with iron ore in the samples. We conclude that soils around mining areas had a chronic toxic effect on E. andrei in terms of reproduction, demonstrating the potential damage of these mining activities on the fauna in the surrounding soil. The study also provided ecotoxicological information that may be useful in environmental risk assessments in tropical soils.