O artigo tem como objetivo analisar o processo de refundação do Partido da Frente Liberal (PFL), que resultou na troca de comando do partido e na substituição da denominação anterior da legenda por Democratas (DEM), em março de 2007. A hipótese principal é que a transferência do PFL para a oposição, a partir de 2003, fato inédito na história do partido, decorrente da chegada do Partido dos Trabalhadores (PT) ao poder federal, foi o evento determinante para a decisão de seus dirigentes de tentar dar nova imagem e identidade ao PFL. Argumenta-se também que a refundação teve como objetivo reposicionar o PFL no mercado político eleitoral brasileiro, de modo que pudesse atrair o apoio do eleitorado das cidades de médio e grande porte. Mostra-se que a passagem para a oposição desencadeou o enfraquecimento do PFL. Entrevistas com dirigentes e políticos do partido, além de documentos, material de divulgação e pesquisas de opinião pública produzidos pelo PFL/DEM foram utilizados para a análise e descrição da refundação do PFL. Dados acerca da migração partidária e do desempenho eleitoral do partido antes e depois da passagem à oposição ao governo Lula também foram empregados. Mostra-se que a passagem para a oposição desencadeou o enfraquecimento do PFL. Dois movimentos conjugados provocaram o retraimento do partido: (i) a transferência de políticos pefelistas para legendas aliadas ao governo Lula; (ii) o mau desempenho eleitoral na região Nordeste, reduto tradicional do PFL em sua fase governista e que passou a ser progressivamente dominado por partidos que apoiavam a administração petista. Por fim, com base nos resultados das eleições municipais de 2000, 2004 e 2008, apresenta-se dados e testes estatísticos que sustentam a ideia de que os municípios menos desenvolvidos, menos populosos, localizados no Nordeste e cujas economias são mais dependentes do setor público possuem viés governista. Isto é, nessas localidades, mais do que no restante do país, o poder local tende a alinhar-se com o poder federal. Tal tendência parece fornecer uma boa explicação para o retraimento do PFL nos municípios com as características acima definidas. Os resultados aqui apresentados indicam a centralidade do poder federal no sistema político brasileiro e a dificuldade de sobrevivência de um partido de oposição ao governo federal, especialmente quando não controla governos estaduais importantes, como foi o caso do PFL a partir de 2006.
This dissertation aims to analyze the re-foundation process of the Partido da Frente Liberal (PFL), which resulted in the change of command of the party and the replacement of the previous name of the legend by Democrats (DEM) in March 2007. We assume the hypothesis that the transfer of the PFL for the opposition since 2003, unprecedented in the history of the party, was the crucial event to the decision of party leaders to try to give new image and identity to the PFL. We argue also that the re-foundation aimed to reposition the PFL in Brazilian electoral political market in order to attract the support of the urban voters located in large and medium-sized cities. Interviews with political leaders and party, plus documents, promotional material and public opinion polls produced by PFL/DEM were used for the analysis and description of the PFL re-foundation process. Data about party switching phenomenon and PFL electoral performance before and after the path to the opposition to Lula administration were also employed. We show that the transition to the opposition led to the weakening of the PFL. Two movements together caused the retreat of the party: 1) the transfer of PFL politicians to parties allied to Lula´s administration, 2) the poor electoral performance in the Northeast, traditional stronghold of the PFL during the time it was in the government and that was progressively dominated by parties which supported PT administration. Finally, dealing with the results of municipal elections in 2000, 2004 and 2008, we present data and statistical tests that support the idea that less developed municipalities, few populated, located in the Northeast region and whose economies are more dependent on public sector have a pro-government bias. That is, in these locations, more than in the rest of the country, local government tends to align with the federal government. This trend seems to provide a good explanation for the withdrawal of the PFL in municipalities with the characteristics specified above. The results presented here indicate the centrality of federal power in the Brazilian political system and the difficulty of survival faced by opposition party especially when it does not control important state governments, as was the case of PFL from 2006.