Resumo De acordo com a opinião predominante, o capitalismo é uma economia de mercado regida por leis imutáveis e a desigualdade é o resultado da competição entre indivíduos livres e iguais nesse mercado. Este artigo argumenta que o capitalismo, conforme desenvolvido na Europa Ocidental nos tempos modernos, tem mais em comum com o crime organizado do que com um sistema de leis naturais. Está enraizado na venda de igrejas e terras comunitárias, na privatização das finanças (especialmente da dívida pública) e no colonialismo. No entanto, seu objetivo não é o acúmulo de riqueza. Esta é apenas uma forma particular de sustentar a dominação de um pequeno grupo de pessoas sobre o resto da população. A dominação no capitalismo difere das formas anteriores de dominação de duas maneiras: é reproduzida por meio da acumulação de riqueza e não é visível como tal. Nem a finalidade (dominação) nem o funcionamento (apropriação sistemática) são visíveis na superfície. Até Marx foi levado a acreditar que a economia é governada por leis que podem ser estudadas cientificamente. O artigo argumentará contra essa crença ao traçar as estruturas de dominação até a reprodução da desigualdade social nas sociedades capitalistas.

Abstract According to the prevailing opinion, capitalism is a market economy governed by immutable laws and inequality is the result of competition between free and equal individuals on that market. This paper argues that capitalism, as developed in Western Europe in modern times, has more in common with organized crime than with a system of natural laws. It is rooted in the sale of church and common lands, the privatization of finance (especially public debt) and colonialism. However, its purpose is not the accumulation of wealth. It is merely a particular way of sustaining domination by a small group of people over the rest of the population. Domination in capitalism differs from earlier forms of domination in two ways: it is reproduced via the accumulation of wealth and it is not visible as such. Neither the purpose (domination) nor the functioning (systematic appropriation) is visible on the surface. Even Marx was led to believe that the economy is governed by laws which can be studied scientifically. The paper will argue against this belief by tracing the structures of domination to the reproduction of social inequality in capitalist societies.

Resumo Este artigo argumenta que, por motivos epistemológicos bem como éticos, a desigualdade social é, possivelmente, um tema central de qualquer teoria crítica nas ciências sociais. Visto que cientistas sociais são parte do objeto científico, isto é, a sociedade, o projeto da ciência é interdependente com o seu objeto. Por essa razão, a estrutura da sociedade em si influencia a forma da ciência social. Ao mesmo tempo, os processos e resultados do projeto científico exercem um impacto sobre a sociedade. A ciência transforma o seu próprio objeto. Essas questões epistemológicas encontram-se, portanto, ligadas a questões éticas acerca da organização social do projeto científico, do acesso à ciência, da estrutura da sociedade e da desigualdade. Se o acesso à ciência é desigual e se a ciência contribui para a desigualdade, então isso precisa ser legitimado cientificamente.

Abstract This paper argues that social inequality is possibly the core topic of any critical theory in the social sciences – for epistemological as well as ethical reasons. As the social scientist is part of the scientific object, namely society, the project of science is interdependent with its object. For this reason, the structure of society itself influences the shape of social science. At the same time, the processes and results of the scientific project have an impact on society. Science changes its own object. Epistemological issues are therefore tied to the ethical questions about the social organization of the scientific project, access to science, the structure of society and inequality. If access to science is unequal and if science contributes to inequality, this has to be legitimized scientifically.