RESUMO O envelhecimento sempre foi um tema de proeminência para diversos autores, que escreveram sobre as mudanças físicas e cognitivas que o acompanham. A literatura japonesa, particularmente, é rica em exemplos, como Yasunari Kawabata. Em O Som da Montanha, Kawabata narra a vida de Shingo Ogata que, no começo, manifesta apenas sintomas em memória episódica, preenchendo critérios diagnósticos para o que hoje chamamos de comprometimento cognitivo leve. Após descrições detalhadas de outros problemas de saúde relacionados à idade, Shingo percebe que outro sintoma se manifestou: apraxia. Incapaz de dar nó em sua gravata, ele percebe seu próprio declínio para o que hoje chamamos de demência, já que este novo déficit passa a ter impacto em sua funcionalidade. Em resumo, Kawabata elegantemente descreve uma progressão de doença familiar a todos os neurologistas, usando uma voz poética que nos faz enxergar com novas lentes os desafios neurológicos do envelhecimento.
ABSTRACT Ageing has always been a prominent theme for many authors, who wrote about the physical and cognitive changes that accompany it. Japanese literature, in particular, is rich in examples, especially from the pen of Yasunari Kawabata. In The Sound of the Mountain, Kawabata narrates the old age of Shingo Ogata, who begins the book manifesting only lapses in episodic memory, in a manner compatible with what we would call mild cognitive impairment. After detailed descriptions of other ailments of old age, Shingo comes to realise that a new deficit has appeared: apraxia. Unable to tie his own tie, he realises his own decline to what we could call an initial form of dementia, with this added cognitive deficit impacting his daily life. In short, Kawabata elegantly delineates a disease progression familiar to all neurologists, in a way that leads us to consider with new lenses the neurological challenges of ageing.