OBJETIVO: Com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD, 2004), foram comparadas as diferenças na prevalência de insegurança moderada/grave em relação à segurança alimentar, e insegurança leve quanto à posse de bens de consumo e outras condições socioeconômicas e demográficas. MÉTODOS: Foram estudados os domicílios particulares permanentes, com rendimento domiciliar per capita de até um salário mínimo, utilizando-se a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar respondida por morador do domicílio (n=51.357). A associação entre as variáveis e a variável dependente (segurança alimentar) foi verificada pelo teste do Χ2 com nível de significância de 5%. Foram calculadas razões de prevalência brutas e intervalos de confiança de 95% e a análise ajustada foi conduzida por meio de regressão múltipla de Poisson, utilizando Stata 8.0, que incorpora as ponderações do desenho amostral com delineamento complexo. RESULTADOS: A renda domiciliar mensal per capita foi a variável com maior força de associação com a segurança alimentar. Tanto em áreas urbanas quanto rurais, foram encontradas elevadas razões de prevalência para insegurança alimentar moderada ou grave nos domicílios chefiados por mulheres, de cor negra, presença no domicílio de seis ou mais moradores, localização metropolitana e com ausência de alguns bens específicos (fogão, filtro, geladeira, freezer, máquina de lavar roupa e telefone celular). Em modelo que incluiu, entre os bens, apenas a posse de geladeira, a maior razão de prevalência ocorreu na renda de até ¼ de salário mínimo, seguindo-se a ausência de posse de geladeira, tanto nos domicílios chefiados por homens brancos, como por negros e mulheres brancas ou negras. Embora os domicílios chefiados por mulheres e por negros apresentem maior insegurança alimentar, as diferenças intragrupais foram maiores em domicílios chefiados por homens brancos e menores nos de mulheres negras. CONCLUSÃO: Em nível nacional e em domicílios com renda de até um salário mínimo, condições socioeconômicas mais precárias estão associadas à insegurança alimentar, sendo a situação agravada naqueles chefiados por mulheres e onde residem pessoas de cor autorreferida como negra. A ausência de bens identifica, entre os pobres, a população mais vulnerável à insegurança alimentar e pode se constituir em indicador complementar, sobretudo em estudos locais, onde há escassez de recursos técnicos para coleta de dados e análises mais sofisticadas.
OBJECTIVE: Data from the National Household Survey 2004 was analyzed to compare differences in prevalence among moderate or severe food insecurity. Also, it was compared food security or mild food insecurity households in relation to the assets and other socioeconomic and demographic conditions of the household. METHOD: Private permanent households, with per capita monthly income of up to one minimum wage and with the Brazilian Food Insecurity Scale answered by a household resident were studied (n=51,357). Association of variables with the dependent variable (food security) was verified using Χ2 test, with 5% significance level. Crude prevalence ratio, respective 95% confidence interval and adjusted analyses were carried out using Poisson multiple regression Stata 8.0. It considers the weights of the complex sampling design of the survey. RESULTS: The per capita monthly household income was the variable with strongest association to food security. Both in urban and rural areas, there were higher risk of moderate or severe food insecurity prevalence ratio when the head of the household was a female, black color, presence of six or more members in the household, metropolitan area and with absence of some specific assets (stove, water filter, refrigerator, freezer, washing machine and cellular phone). In a model that, among assets, included just the refrigerator, it was observed the highest prevalence ratio for household income of up to ¼ of a minimum wage and after this, the absence of refrigerator among households headed by white and black males and white or black female. Although female and black headed households have greater food restriction, internal differences among these groups were higher for households headed by white males and lower for those headed by black females. CONCLUSION: At national level and households with monthly income of up to one minimum age, poor socioeconomic conditions are associated to household food insecurity. This situation is worse among those headed by women and black people. Among poor people, the absence of assets identifies the most vulnerable population to food insecurity and may be used as complementary indicator, mainly in local studies with poor technical resources for data collection and more sophisticated analyzes.