RESUMO As críticas dirigidas à biografia, desde a denúncia do “ídolo do individual” de uma recém-fundada ciência sociológica, bem como a desqualificação do seu potencial cognitivo sob o argumento da “ilusão biográfica”, sempre tiveram por efeito perpetuar tanto uma noção esvaziada e empobrecida de narrativa, quanto da dimensão temporal constitutiva da identidade de um indivíduo. As reflexões que proponho neste artigo desenvolvem-se em dois momentos. No primeiro, faço um retorno ao conhecido argumento de desqualificação da credibilidade do biográfico que, em última instância, consistiu na atribuição do estatuto ilusório e fictício às construções identitárias, implícitas nas histórias de vida. Em seguida, aponto para uma problematização dessas interdições, com base nas perspectivas abertas pela noção de identidade narrativa formulada por Paul Ricoeur, cujo ganho crucial estaria em confrontar o indivíduo com a experiência do tempo.
ABSTRACT Since the “idol of the individual” denunciation by a newly founded sociological science, as well as the disqualification of its cognitive potential under the “biographical illusion”, the critique of biography has always had the effect of perpetuating both an emptied and impoverished notion of narrative, and the temporal dimension constituting the individual identity. The reflections I propose in this article unfold in two moments. First, I return to the well-known argument of disqualification of the credibility of the biographical, which ultimately consisted in attributing an illusory and fictitious status to the identitary constructions implicit in the life histories. Then, I point to a problematization of such interdictions based on the perspectives opened by the notion of narrative identity formulated by Paul Ricoeur, whose crucial gain would be in confronting the individual with the experience of time.
RESUMEN Las críticas a la biografía, desde la denuncia del “ídolo del individual” de una recién-fundada ciencia sociológica, así bien que la descalificación de su potencial cognitivo bajo el argumento de la “ilusión biográfica”, siempre han resultado en la perpetuación de una noción vaciada y empobrecida de la narrativa, y también de la dimensión temporal constitutiva de la identidad de un individuo. Las reflexiones que propongo en este artículo se desarrollan en dos momentos. En el primer, hago un retorno al conocido argumento de descalificación de la credibilidad del biográfico que, en último análisis, ha consistido en la atribución del estatuto ilusorio y ficticio a las construcciones identitárias, implícitas en las historias de vida. Enseguida, señalo una problematización de estas interdicciones, con base en las perspectivas abiertas por la noción de identidad narrativa formulada por Paul Ricoeur, cuyo beneficio crucial estaría en confrontar el individuo con la experiencia del tiempo.