De modo semelhante aos rompantes etnocêntricos de uma cultura humana frente a outras, as relações entre humanos e primatas não humanos incluem um estranhamento pontuado por atração e repulsa, identificação e diferença. Ciência, arte e mitologia são a expressão viva e atualizada disso. Desde 1960, a primatologia destaca-se nesse cenário por contribuir significativamente na revisão das definições sobre o comportamento dos primatas e, consequentemente, na redefinição do humano ao apresentar a polêmica proposição de existência de "culturas" entre animais não humanos. Assim, a aproximação entre humanos e primatas não humanos parece inexorável e irreversível. Isso implica, por exemplo, em cogitar se esse processo engendra, ou não, a constituição de novas alteridades a partir de um novo outro (não humano), carregado de significados. Isso incluiria, por exemplo, a reformulação de representações e de categorias de classificação, bem como o aprofundamento do debate sobre os direitos dos animais não humanos. Ao dirigir tal tipo de desafio a situações de pesquisa antropológica deve-se ter aguda consciência de que o registro etnográfico das relações entre humanos e os outros primatas será uma construção empírica, perceptual e teórica. Dado o tipo particular de relação estabelecida entre humanos e outros primatas, pautada em um universo fronteiriço de incômodas semelhanças e diferenças, constituem-se aí coletivos híbridos em que o alcance e a profundidade das interações possíveis ainda são desconhecidos.
The relations between humans and non-human primates resemble the ethnocentric reaction of one human culture in relation to others, and include an estrangement marked by attraction and rejection, identification and differentiation. Art, science and myths are the vivid and updated expression of these phenomena. Since the 1960's primatology stands out in that scenario for contributing significantly to the revision of the definitions about the behavior of primates and, consequently, for the redefinition of human beings, and for making the controversial proposal of the existence of non-human animal "cultures". Then, the close connection between humans and non-human primates seems relentless and irreversible - and raises the question on whether or not these processes engender a new kind of otherness deriving from a non-human other that is full of meaning. This would include, for example, the reformulation of the representations and categories of classification, as well as deepening the debate about the rights of non-human animals. When the challenge is taken up in situations of anthropological research that address the relationships between human beings and the other primates, the ethnographic register that describes the relations between human beings and other primates will be an equally sharp empirical, perceptual and theoretical construction. Given the peculiar type of relationship established between human beings and other primates, implemented in a frontier universe of uncomfortable similarities and differences, they constituted a hybrid collective where interactions are possible but we do not know exactly how complex or how depth they are.