Resumo: O artigo visa a indagar em que medida a religiosidade, observada a partir de seu contexto originário, seria um dos meios encontrados pela civilização para abafar impulsos humanos primários tendentes à desagregação social e moral. A despeito dessa tentativa de controle, questiona-se o quanto tais impulsos ditos primitivos prevalecem em nossa constituição biológica, psíquica e social, de modo a justificarem comportamentos aberrantes tão comuns em nossa época. Tomam-se por base as ideias de Henri Bergson, presentes no segundo capítulo d’As duas fontes da moral e da religião, intitulado “A religião estática”, em cotejo aos argumentos de Sigmund Freud, apresentados, sobretudo, em O futuro de uma ilusão e Totem e tabu. Apesar da aproximação com as ciências sociais, segue-se a hipótese de que o livro de Bergson nutre um diálogo mais fecundo com a teoria freudiana, no que tange à compreensão da religiosidade dita primitiva em oposição, ou não, à civilizada.
Abstract: The article aims to inquire to what extent religiosity, observed from its original context, would be away found by civilization to stifle primary human impulses tending to social and moral breakdown. In spite of this attempt at control, we question how much these so-called primitive impulses prevail in our biological, psychological and social constitution in order to justify aberrant behaviors so common in our time. We will start from the Henri Bergson’s ideas, presented in the second chapter of The two sources of moral and religion, entitled “The static religion” in comparison with Sigmund Freud’s arguments presented, above all, in The future of an illusion and Totem and taboo. Although the proximity with the social sciences, we will follow the hypothesis that Bergson’s book carries out a more fruitful dialogue with Freudian theory regarding the understanding of the so-called primitive religiosity in opposition, or not, to the civilized one.