Resumo No decorrer do século XX a etnologia guarani produziu uma série de trabalhos cuja gênese se assentava nas migrações registradas por Nimuendaju e publicadas em sua obra de 1914. No litoral atlântico, diversos cronistas haviam registrado desde o início da Conquista fenômenos semelhantes entre diversos grupos indígenas que foram denominados genericamente como Tupi-Guarani. Desde então, muitos antropólogos se propuseram a estabelecer um fio condutor entre as migrações tupi-guarani e as dos Guarani, muitas vezes atribuindo a ambas os mesmos motivos e objetivos: escapar à destruição do mundo e adentrar em vida a terra dos imortais. Entretanto, um exame detalhado da bibliografia, bem como de algumas fontes documentais coloca em xeque este fio condutor. Este artigo é um estudo sobre as múltiplas formas de deslocamentos observadas entre os Guarani ao longo dos séculos XVI e XVII e posteriormente durante os séculos XIX e XX. O seu objetivo é analisar e distinguir essas formas de deslocamentos: de um lado, as migrações para a terra sem mal nos séculos XIX e XX, de outro, as expedições de guerra, pilhagens e captura de escravos, as fugas em face dos colonizadores espanhóis e bandeirantes portugueses e as atrações para as missões jesuíticas nos séculos XVI e XVII.
Abstract Over the course of the twentieth century, Guarani ethnology produced a series of works whose genesis can be traced back to the migrations registered by Curt Nimuendajú and published in his work of 1914. On the Atlantic coast, various chroniclers had registered similar phenomena, since the beginning of the European Conquest, among diverse indigenous groups that were generically denominated Tupi-Guarani. Since then, many anthropologists have proposed to establish a common thread between the Tupi-Guarani migrations and those of the Guarani, frequently attributing the same motives and objectives to both: to escape the destruction of the world and enter the land of the immortals while still alive. However, a detailed examination of the bibliography, as well as various documentary sources, calls any such connection into question. This article is a study of the multiple forms of translocation observed among the Guarani during the sixteenth and seventeenth centuries and subsequently during the nineteenth and twentieth. Its objective is to analyse and distinguish these forms of translocation: on one hand, the migrations toward the land without evil in the nineteenth and twentieth centuries; on the other, the war expeditions, raids, slave captures, flights from the Spanish colonisers and Portuguese bandeirantes, and attractions to the Jesuit missions in the sixteenth and seventeenth centuries.
Resumen En el transcurso del siglo XX la etnología guaraní produjo trabajos cuya génesis se asentaba en las migraciones registradas por Nimuendaju y publicadas en su obra, en 1914. En el litoral atlántico, diversos cronistas registraron desde el inicio de la Conquista fenómenos semejantes entre diversos grupos indígenas denominados genéricamente Tupi-Guaraní. Desde entonces, muchos antropólogos se propusieron establecer un hilo conductor entre las migraciones tupi-guaraní y la de los Guaraní, atribuyendo a ambas los mismos motivos y objetivos: escapar de la destrucción del mundo y adentrar, en vida, en la tierra de los inmortales. Sin embargo, un examen detallado de la bibliografía, así como de algunas fuentes documentales, pone en jaque ese hilo conductor. Este artículo es un estudio sobre las múltiples formas de desplazamiento observadas entre los Guaraní a lo largo de los siglos XVI y XVII y posteriormente durante los siglos XIX y XX. El objetivo es analizarlas y distinguirlas: de un lado, las migraciones hacia la tierra sin mal en los siglos XIX y XX; del otro, las expediciones de guerra, saqueos y captura de esclavos, las fugas de los colonizadores españoles y de los bandeirantes portugueses y el desplazamiento hacia las misiones jesuíticas en los siglos XVI y XVII.