No despontar do século XXI, uma atividade tão antiga quanto o artesanato tem sido alvo de incentivos econômicos por parte do Estado e de organizações não governamentais (ONGs) que atuam no Brasil. Intervenções realizadas por organizações como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) têm por objetivo transformar a produção artesanal brasileira em uma grande geradora de emprego e renda, atrelada aos circuitos de consumo internacional e/ou à atividade turística. No exame das propostas que fundamentam intervenções desse tipo, é notório o discurso da ressignificação do artesanato e da identidade do artesão por meio do enaltecimento da ação empreendedora e da ênfase sobre a gestão e a necessidade premente de impor ao trabalho artesanal os padrões de competitividade inerentes à economia capitalista. Mas os novos empreendedores-artesãos têm, na ressignificação da sua atividade, a aparência de uma inserção social que não chega a se concretizar. Em virtude dos processos de intervenção que têm ressignificado a produção artesanal brasileira, observa-se certo prejuízo das características materiais e dos traços simbólicos que são peculiares ao artesanato, culminando com a naturalização da ideologia gerencialista como modelo para a reconfiguração do artesanato. Nesse quadro, o que ocorre de fato é a incorporação de cada vez mais pessoas no sistema-mundo que alimenta a matriz de poder capitalista moderno/colonial. E tal processo, que privilegia a empresarização do artesanato, tanto banaliza quanto reproduz a ideia de desenvolvimento como sinônimo de ampliação da capacidade de consumo. A lógica subjacente a essa ideologia está na concepção de que a proclamada liberdade que seria inerente à política neoliberal reside no potencial de consumo individual. A comoditização do artesanato fecha um ciclo que acaba por retirar autonomia do artesão, afasta-o de uma perspectiva emancipatória e reproduz uma situação de dependência em que não há perspectivas de transformação. “Inclusão social”, no caso em apreciação, é um eufemismo para a incorporação de novos consumidores no mercado de massa.
At the beginning of the twenty-first century, an activity as old as the craft has been the target of economic incentives from the state and non-governmental organizations (NGOs) operating in Brazil. Intervention actions taken by organizations like the Brazilian Service of Support for Micro and Small Enterprises (Sebrae), aims to transform the Brazilian handicraft production in a generating activity of employment and income, linked to the international consumer circuits and/or tourist activity. In examining the proposals that underlie such interventions, is notorious the speech re-framing craft and artisan identity, through the enhancement of entrepreneurial action and the emphasis on management and on the urgent need to impose to the craftsmanship standards of competitiveness inherent in the capitalist economy. But the new entrepreneurs-artisans have in the redefinition of its activity the appearance of a social integration that fails to materialize itself. Because of the intervention processes that have re-framed the Brazilian handicraft production, we observe certain loss of material and symbolic traits that are peculiar to the craft production, culminating in the naturalization of the entrepreneurial ideology as a model for the configuration of the craft. In this context, what happens is the mere incorporation of more and more people entangled in the world-system that feeds the matrix of the modern/colonial capitalist power. And this process, which emphasizes enterprisation of crafts, trivializes as much as it reproduces the idea of development as a synonym for expansion of consumption capacity. The logic behind this ideology is the notion that the proclaimed freedom that would be inherent in the neoliberal policy lies in the potential of the consumer individual. A commoditization of craft closes a cycle that ultimately remove the autonomy of the craftsman, removes it from an emancipatory perspective and reproduces a situation of dependence in which there is no prospect of change. Social inclusion is a euphemism for the incorporation of new consumers in the mass market.
En los albores del siglo XXI, una actividad tan antigua como la artesanía ha sido el objetivo de los incentivos económicos del Estado y de las organizaciones no gubernamentales (ONGs) que operan en Brasil. Medidas de intervención adoptadas por organizaciones como el Servicio Brasileño de Apoyo a las Micro y Pequeñas Empresas (Sebrae), tiene como objetivo transformar la producción de artesanía brasileña en una actividad generadora de empleo e ingresos, vinculados a los circuitos internacionales de consumo y/o actividad turística. Al examinar las propuestas que subyacen a este tipo de intervenciones, es notorio un discurso que ressignifica la artesanía y la identidad artesanal, a través incentivo de la acción empreendedora y el énfasis en la gestión y en la urgente necesidad de imponer los estándares de la artesanía de la competitividad inherente a la economía capitalista. Pero los nuevos artesanos-empreendedores tienen en la redefinición de su actividad la aparición de una integración social que no se materializa. Debido a que los procesos de intervención que se han replanteado la producción artesanal de Brasil, se observa cierta pérdida de rasgos materiales y simbólicos que son peculiares a las características artesanales, que culminó con la naturalización de la ideología del empreendedorismo como un modelo para la configuración de la artesanía. En este contexto, lo que ocurre es la mera incorporación de más y más personas atrapadas en el sistema-mundo que alimenta la matriz del poder capitalista moderno/colonial. Y este proceso, que hace hincapié en la empresarización de la artesanía, tanto trivializa como opera la idea del desarrollo como sinónimo de expansión de la capacidad de consumo. La lógica detrás de esta ideología es la idea de que la proclamada libertad que sería inherente a la política neoliberal está radicada en el potencial consumo individual. La mercantilización cierra un ciclo que en última instancia, eliminar la autonomía del artesano, lo elimina de una perspectiva emancipadora y reproduce una situación de dependencia en la que no hay perspectivas de cambio. La inclusión social es un eufemismo para la incorporación de nuevos consumidores en el mercado de masas.