Resumo O objetivo deste artigo é compreender a gestão ordinária enquanto resistência e forma de sobrevivência, organizada em práticas cotidianas que são em parte produto e produtoras da pluralidade cultural no campo do artesanato em Piúma. Dentro da perspectiva dos estudos baseados em práticas (Feldman & Orlikowski, 2011), articulamos teoricamente a abordagem da gestão ordinária (Carrieri, Perdigão & Aguiar, 2014), da produção artesanal (Sennett, 2009) e das contribuições certeaunianas voltadas para o reconhecimento dos jogos de relações de forças dentro de uma pluralidade cultural. Ao propor o foco nessa pluralidade, o artigo preenche uma lacuna, pois em estudos anteriores sobre a gestão ordinária essa pluralidade cultural não foi abordada de maneira específica. A proposição foi sustentada por uma pesquisa qualitativa, realizada por meio de coleta de documentos, observação participante e entrevistas não estruturadas com cinco artesãos de Piúma. Na análise dos dados articulamos a prática narrativa em De Certeau (1985) e a temporalidade narrativa em Ricoeur (1994). Como resultados, identificamos diferentes redes de relações de forças nas quais os artesãos se inserem no organizar das práticas de gestão ordinária. Nelas as culturas se mostraram produções plurais, afastando-se da leitura de uma cultura popular externa às práticas cotidianas ou submissa a outras pressões externas. O artigo potencializa um olhar alternativo sobre a gestão ordinária do artesanato e de outros fazeres organizacionais baseados na pluralidade cultural.
Abstract This article aims to understand the ordinary management of the resistances and forms of survival, organized in everyday practices that are in part product and producers of cultural plurality in the field of handicrafts in the city of Piúma, Brazil. From the perspective of practice-based studies (Feldman & Orlikowski, 2011), we articulate theoretically the approach of ordinary management (Carrieri, Perdigão & Aguiar, 2014) of craft production (Sennett, 2009) and the certeaunian contributions. These contributions are directed towards the recognition of the games of force relations within a cultural plurality. In proposing the focus on this plurality, this article fills a gap, because in previous studies on ordinary management, this cultural plurality has not been specifically addressed. The proposal was supported by a qualitative research, accomplished through document collection, participant observation, and unstructured interviews with five artisans from Piúma. In the analysis of the data, we articulate the narrative practice in De Certeau (1985) and narrative temporality in Ricoeur (1994). As results, we identify different networks of force relations in which artisans are involved in organizing practices of ordinary management. In them, cultures have shown themselves as plural productions, moving away from the view of a popular culture, external to everyday practices or submissive to other external pressures. This article contributes to an alternative view at the Ordinary Management of handicrafts and other organizational actions based on cultural plurality.