Ele testemunhou, 'de dentro', os estertores da ditadura militar brasileira, durante o governo João Baptista Figueiredo. Foi o "ministro interno" da Saúde do Brasil, nas palavras do próprio titular da pasta, Waldir Arcoverde. Respondeu, no Ministério da Saúde, por importantes mudanças, e para isso enfrentou com a verve nordestina as contínuas ameaças e pressões da chamada comunidade de informações, que à época governava o Brasil com mão de ferro. Mozart Abreu Lima foi um dos principais estrategistas da saúde pública brasileira no período de passagem da ditadura para a lenta e gradual restauração do Estado de direito. Para a cadeira de secretário geral do Ministério da Saúde levou a inteligência que o destacou na elaboração do plano diretor da Central de Medicamentos, a Ceme, e a cultura de gestão descentralizada e participativa experimentada na Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste, a Sudene. Embora se apresente como um homem de esquerda, não hesita em aplaudir a política industrial implantada pelos governos militares, em especial a partir da administração Geisel. Nacionalista contumaz, Mozart Abreu Lima fez história na Fiocruz, como um dos mentores da criação do Instituto Nacional de Controle de Qualidade (INCQ). Principal responsável pela extraordinária logística que viabilizou a realização dos dias nacionais de vacinação, modelo de imunização hoje mundialmente consagrado, nesta entrevista concedida a Carlos Fidélis Ponte, pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz, ele desvenda os bastidores de sua experiência no poder, revela esquemas de corrupção na fiscalização da saúde, apresenta conceitos de gestão pública e critica o Brasil das instituições descartáveis, do Estado empobrecido e desmantelado, de caso pensado, transformado em mercado de fast-food.
He was an inside witness to the death throes of Brazil's military dictatorship, under the João Baptista Figueiredo administration. He was "internal minister" of Health, in the words of the official Minister himself, Waldir Arcoverde. Within this ministry, he was responsible for important changes and as a result had to rely on his Northeastern vitality to cope with the constant threats and pressures brought to bear by the so-called "information community," then ruling Brazil with an iron fist. Mozart Abreu Lima was one of the country's key public health strategists in the period leading from dictatorship to Brazil's slow and gradual return to the rule of law. When he took office as secretary general of the Health Ministry, he brought with him the sharp intelligence already demonstrated during development of a master plan for the Central de Medicamentos (Ceme), a centralized drug administration with broad powers. He also came equipped with a culture of decentralized, participative management, acquired at Sudene (Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste), the federal agency responsible for development of the Brazilian Northeast. Although he considers himself a man of the left, he has no qualms about applauding the industrial policy inaugurated by Brazil's military governments, especially dating from the Geisel administration. A contumacious nationalist, Mozart Abreu Lima made history at Fiocruz as one of the mentors behind creation of the National Quality Control Institute (Instituto Nacional de Controle de Qualidade/INCQ). His was the main hand behind the extraordinary logistics involved in introducing National Vaccination Days, now a worldwide model in immunization approaches. In this interview given to Carlos Fidélis Pontes, a researcher at Casa de Oswaldo Cruz Mozart goes behind the scenes of his experience in power, reveals corruption schemes in the area of health surveillance, shares concepts on public management, and criticizes the Brazil of disposable institutions, of an impoverished, dismantled State, transformed into a fast-food market.