Resumo O abandono de mulheres no cárcere tem sido documentado por pesquisadores do Brasil. A ausência mais apontada é dos homens que têm parceiras encarceradas. Não por acaso, nenhuma pesquisa específica sobre esses sujeitos foi encontrada na literatura nacional e internacional. Visando suprir, em parte, essa lacuna bibliográfica, foram investigados os cônjuges que frequentam duas penitenciarias femininas em dias de visitas. Através das lentes de gênero, buscou-se compreender os significados atribuídos por eles para manutenção dos relacionamentos com as companheiras presas. Para isso, realizou-se uma etnografia nas filas de espera das prisões. Na coleta, foram identificados 26 homens companheiros que regularmente frequentam o cárcere feminino em dias de visitas, dos quais quatro foram entrevistados. Embora o número encontrado ainda seja tímido, permite problematizar a categoria “abandono” na cadeia de mulheres. Acerca das trajetórias dos entrevistados, observa-se o exercício simultâneo das masculinidades hegemônica e não hegemônica. Todos são homens provedores, financeiramente estáveis e consideravelmente mais velhos que suas parceiras. Paralelamente, os quatro eram, de algum modo, cuidadores antes do encarceramento de suas companheiras. Para eles, a visita na prisão feminina representa amor, dever e cuidado. Ao mesmo tempo, entende-se que essas relações representam a possibilidade de exercício de controle e poder masculino sobre essas mulheres presas, visto que todas elas têm vidas marcadas por fragilidades familiares e sociais.
Abstract The abandonment of women in prison has been documented by Brazilian researchers. The most highlighted absence is that of men whose female partners are incarcerated. Not by chance, no specific research on these subjects was found in national or international scientific literature. Aiming to remedy, to some extent, this bibliographical gap, we investigated male partners who attend two penitentiaries in visiting days. Through gender lenses, we aimed to understand the meanings attributed by them in order to maintain their relationships with the imprisoned partners. To achieve that, we conducted an ethnography in the prison-visiting queues. In data collection, 26 male partners who regularly attend female correctional facilities were identified, four of which have been interviewed. Although these numbers are still low, they allow the problematization of the category “abandonment” within female prisons. Concerning the interviewees’ trajectories, we perceived the simultaneous exercise of hegemonic and non-hegemonic masculinities. All of them are providers, financially stable and substantially older than their partners. In addition to that, the four of them were, in some way, caretakers before their partners’ imprisonment. For them, visiting the female prison represents love, duty and care. At the same time, we understand that these relationships represent the possibility of exercising control and male power over these imprisoned women, since they all have lives marked by family and social frailties.
Resumen El abandono de mujeres en la cárcel ha sido documentado por investigadores en Brasil. La ausencia más notoria es la de los hombres cuyas compañeras están encarceladas. No por casualidad, ninguna investigación específica acerca de estos sujetos ha sido encontrada en la literatura nacional e internacional., Con el fin de suplir, en parte, esa laguna bibliográfica fueron investigados los conyugues que frecuentan dos penitenciarias femeninas en días de visitas. A través de las lentes de género, se buscó comprender los significados por ellos atribuidos a la manutención de la relación con sus compañeras presas. Para tal, se realizó una etnografía en las filas de espera de las prisiones. En la colecta, fueron identificados 26 hombres compañeros que frecuentan regularmente la cárcel femenina en días de visitas, entre ellos, cuatro fueron entrevistados. Aunque el número encontrado todavía sea tímido, permite problematizar la categoría “abandono” en la cárcel de mujeres. Acerca de las trayectorias de los entrevistados, se observa el ejercicio simultáneo de las masculinidades hegemónica y no hegemónica. Todos los hombres son proveedores, financieramente estables y considerablemente más viejos que sus compañeras. En paralelo, los cuatro eran, de alguna manera, cuidadores, antes del encarcelamiento de sus compañeras. Para ellos, la visita en la cárcel femenina representa amor, deber y cuidado. Al mismo tiempo, se entiende que estas relaciones representan la posibilidad del ejercicio de control y poder masculino sobre estas mujeres presas, dado que todas ellas tienen vidas marcadas por fragilidades familiares y sociales.