RESUMO Seguindo uma tendência das abordagens bioéticas/em ética aplicada, uma das características frustrantes dos estudos sobre o melhoramento humano tecnológico é a sua tendência dicotômica. Muitas vezes, os benefícios e riscos do melhoramento humano tecnológico são afirmados de modo teorica e empiricamente vago, polarizado e não ponderado. Isto ‘emperra’ o debate no problemático estágio ‘prós versus contras’, ensejando a adoção de posições extremistas. Nesse artigo, abordaremos um lado do problema: o foco sobre os riscos e a abordagem imprecisa destes. O que motiva nossa abordagem é a identificação das fragilidades decorrentes da utilização do conceito de risco na retórica anti-melhoramento, bem como a heurística do medo e o princípio de precaução em que esta corrente se baseia. Assim, ‘dando um passo atrás’ para avançar no debate, nosso objetivo é estabelecer alguns fundamentos teóricos relativos ao conceito de risco, reconhecendo, ao mesmo tempo, a sua complexidade e importância para o debate. Além do conceito de risco, enfatizamos o conceito de risco existencial, e fazemos algumas considerações sobre os desafios epistêmicos. Por fim, destacamos as características centrais de abordagens mais promissoras para fazer o debate avançar.
ABSTRACT Following a trend in bioethical/applied ethics approaches, one of the frustrating features of studies on technological human enhancement is their dichotomous tendency. Often, benefits and risks of technological human enhancement are stated in theoretically and empirically vague, polarized, unweighted ways. This has blocked the debate in the problematic ‘pros vs. cons’ stage, leading to the adoption of extremist positions. In this paper, we will address one side of the problem: the focus on risks and the imprecise approach to them. What motivates our approach is the identification of the weaknesses of the anti-enhancement criticism, which stem from its use of the concept of risk, as well as the heuristic of fear and the precautionary principle. Thus, ‘taking a step back’ to move forward in the debate, our purpose is to establish some theoretical foundations concerning the concept of risk, recognizing, at the same time, its complexity and importance for the debate. Besides the concept of risk, we emphasize the concept of existential risk, and we make some considerations about epistemic challenges. Finally, we highlight central features of more promising approaches to move the debate forward.