Resumo Os distúrbios contra uma batida policial em Nova York no bar Stonewall Inn em junho de 1969 são frequentemente identificados como tendo desencadeado o movimento pelos direitos LGBT e a comemoração dos distúrbios um ano depois, em junho de 1970, inaugurou uma série de eventos do Orgulho LGBT que continuam até hoje em todo o mundo. Neste fórum de duas partes, refletimos sobre os efeitos contraditórios do legado internacional de Stonewall. Quais fatos ou lendas são celebrados e quais são marginalizados cinquenta anos depois? Como o sinal ‘Stonewall’ veio para inspirar e/ou marginalizar outras resistências conforme o evento dos EUA se tornou apropriado globalmente? Nesta primeira parte do Fórum, Silva e Jacobo consideram como as mulheres trans negras no Sul Global têm perseguido a luta das mulheres trans ativistas pioneiras na cidade de Nova York e engajado na história de Stonewall além dos Estados Unidos, negando o branqueamento do discurso sobre as revoltas por homens gays cis e mulheres lésbicas cis hegemônicos do movimento, mesmo em suas respectivas nações, Brasil e Filipinas. Esta contribuição do fórum homenageia pessoas trans negras e pardas, cujos corpos foram considerados monstruosos no coração do império e em outros lugares, onde o império permanece. As autoras juntas aspiram a pensar o planeta a partir de suas coordenadas: sul pelo sul, trans por trans. Da irmandade que forjaram, essas duas mulheres trans do Rio de Janeiro e de Manila, imbricadas em suas feridas, mas unidas pela vontade de curar, teorizam a resistência e reexistência como mulheres em um presente decolonial transfeminista.
Abstract The riots against a New York City police raid at the Stonewall Inn bar in June, 1969, are often identified as having sparked the movement for LGBT rights, and the commemoration of the riots one year later in June, 1970, inaugurated a series of annual LGBT Pride events that continues to this day worldwide. In this two-part Forum, we reflect on the contradictory effects of Stonewall’s international legacy. Which facts or legends are celebrated and which are marginalized fifty years later? How has the sign ‘Stonewall’ come to inspire and/or sideline other resistances as the US event became appropriated globally? In this first part of the Forum, Silva and Jacobo consider how trans women of colour in the Global South have pursued the struggle of the pioneering trans women activists in New York City and engaged the history of Stonewall beyond the United States, negating the whitewashing of discourse on the riots by hegemonic cis gay men and cis lesbian women of the movement, even in their respective nations, Brazil and the Philippines. This forum contribution pays tribute to black and brown trans persons whose bodies had been thought of as monstrous in the heart of empire and elsewhere, where empire remains. The authors together aspire to think the planet from their coordinates: south by south, trans for trans. From the sisterhood they forged, these two trans women from Rio de Janeiro and Manila, imbricated in their wounds but bound together by a will to heal, theorize resistance and reexistence as women in a decolonial, transfeminist present.