OBJETIVO: Descrever o recrutamento de pacientes, instrumentos de avaliação, métodos para o desenvolvimento de estudos colaborativos multicêntricos e os resultados preliminares do Consórcio Brasileiro de Pesquisa em Transtornos do Espectro Obsessivo-Compulsivo, que inclui sete centros universitários. MÉTODO: Este estudo transversal incluiu entrevistas semi-estruturadas (dados sociodemográficos, histórico médico e psiquiátrico, curso da doença e diagnósticos psiquiátricos comórbidos) e instrumentos que avaliam os sintomas do transtorno obsessivo-compulsivo (Escala para Sintomas Obsessivo-Compulsivos de Yale-Brown e Escala Dimensional para Sintomas Obsessivo-Compulsivos de Yale-Brown), sintomas depressivos (Inventário de Depressão de Beck), sintomas ansiosos (Inventário de Ansiedade de Beck), fenômenos sensoriais (Escala de Fenômenos Sensoriais da Universidade de São Paulo), juízo crítico (Escala de Avaliação de Crenças de Brown), tiques (Escala de Gravidade Global de Tiques de Yale) e qualidade de vida (questionário genérico de avaliação de qualidade de vida, Medical Outcome Quality of Life Scale Short-form-36 e Escala de Avaliação Social). O treinamento dos avaliadores consistiu em assistir cinco entrevistas filmadas e entrevistar cinco pacientes junto com um pesquisador mais experiente, antes de entrevistar pacientes sozinhos. A confiabilidade entre todos os líderes de grupo para os instrumentos mais importantes (Structured Clinical Interview for DSM-IV, Dimensional Yale-Brown Obsessive-Compulsive Scale, Universidade de São Paulo Sensory Phenomena Scale ) foi medida após seis entrevistas completas. RESULTADOS: A confiabilidade entre avaliadores foi de 96%. Até março de 2008, 630 pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo tinham sido sistematicamente avaliados. A média de idade (±SE) foi de 34,7 (±0,51), 56,3% eram do sexo feminino e 84,6% caucasianos. Os sintomas obsessivo-compulsivos mais prevalentes foram os de simetria e os de contaminação. As comorbidades psiquiátricas mais comuns foram depressão maior, ansiedade generalizada e transtorno de ansiedade social. O transtorno de controle de impulsos mais comum foi escoriação neurótica. CONCLUSÃO: Este consórcio de pesquisa, pioneiro no Brasil, permitiu delinear o perfil sociodemográfico, clínico e terapêutico do paciente com transtorno obsessivo-compulsivo em uma grande amostra clínica de pacientes. O Consórcio Brasileiro de Pesquisa em Transtornos do Espectro Obsessivo-Compulsivo estabeleceu uma importante rede de colaboração de investigação clínica padronizada sobre o transtorno obsessivo-compulsivo e pode abrir o caminho para projetos semelhantes destinados a integrar outros grupos de pesquisa no Brasil e em todo o mundo.
OBJECTIVE: To describe the recruitment of patients, assessment instruments, implementation, methods and preliminary results of The Brazilian Research Consortium on Obsessive-Compulsive Spectrum Disorders, which includes seven university sites. METHOD: This cross-sectional study included a comprehensive clinical assessment including semi-structured interviews (sociodemographic data, medical and psychiatric history, disease course and comorbid psychiatric diagnoses), and instruments to assess obsessive-compulsive (Yale-Brown Obsessive-Compulsive Scale and Dimensional Yale-Brown Obsessive-Compulsive Scale), depressive (Beck Depression Inventory) and anxious (Beck Anxiety Inventory) symptoms, sensory phenomena (Universidade de São Paulo Sensory Phenomena Scale), insight (Brown Assessment Beliefs Scale), tics (Yale Global Tics Severity Scale) and quality of life (Medical Outcome Quality of Life Scale Short-form-36 and Social Assessment Scale). The raters' training consisted of watching at least five videotaped interviews and interviewing five patients with an expert researcher before interviewing patients alone. The reliability between all leaders for the most important instruments (Structured Clinical Interview for DSM-IV, Dimensional Yale-Brown Obsessive-Compulsive Scale, Universidade de São Paulo Sensory Phenomena Scale) was measured after six complete interviews. RESULTS: Inter-rater reliability was 96%. By March 2008, 630 obsessive-compulsive disorder patients had been systematically evaluated. Mean age (±SE) was 34.7 (±0.51), 56.3% were female, and 84.6% Caucasian. The most prevalent obsessive compulsive symptom dimensions were symmetry and contamination. The most common comorbidities were major depression, generalized anxiety and social anxiety disorder. The most common DSM-IV impulsive control disorder was skin picking. CONCLUSION: The sample was composed mainly by Caucasian individuals, unmarried, with some kind of occupational activity, mean age of 35 years, onset of obsessive-compulsive symptoms at 13 years of age, mild to moderate severity, mostly of symmetry, contamination/cleaning and comorbidity with depressive disorders. The Brazilian Research Consortium on Obsessive-Compulsive Spectrum Disorders has established an important network for standardized collaborative clinical research in obsessive-compulsive disorder and may pave the way to similar projects aimed at integrating other research groups in Brazil and throughout the world.