CONTEXTO: Hepatotoxidade é uma complicação potencial do uso de várias drogas ilícitas, possivelmente como conseqüência do seu metabolismo hepático. Entretanto, informações sobre tal possibilidade são escassas na bibliografia médica. OBJETIVO: Estudar a ocorrência de alterações clínicas e laboratoriais hepáticas que podem ocorrer em usuários crônicos de maconha, isoladamente ou associadas ao uso de outras drogas lícitas e ilícitas. TIPO DE ESTUDO: estudo transversal LOCAL: Hospital Espírita de Marília, Marília - SP, Brasil. PARTICIPANTES: Foram estudados 123 pacientes, internados no Hospital Espírita de Marília de outubro de 1996 a dezembro de 1998, divididos em três grupos: 26 (21%) usuários exclusivamente de maconha, 83 (67,5%) usuários de maconha e crack e 14 (11,4%) usuários de maconha e álcool. PROCEDIMENTOS E VARIÁVEIS ESTUDADAS: Os pacientes foram examinados clinicamente, com especial ênfase nos aspectos relativos aos tipos de drogas usadas e rotas de usos, idade de início do uso, tempo e padrão de uso, presença ou ausência de tatuagem, icterícia, hepatomegalia e esplenomegalia. Foram determinados os níveis séricos de proteínas totais, albumina, globulina, bilirrubina total e frações, aspartato-aminotransferase (AST), alanina-aminotransferase (ALT), fosfatase alcalina (FA), gama-glutamiltransferase e atividade da protrombina. RESULTADOS: Entre os usuários exclusivos de maconha foram observados hepatomegalia em 57,7% e esplenomegalia em 73,1% dos casos, e estavam discretamente elevadas a AST (42,3%), ALT (34,6%) e FA (53,8%). Os três grupos não diferiram significativamente nas prevalências de hepatomegalia, esplenomegalia e hepatoesplenomegalia. No grupo maconha/álcool foram observadas as maiores prevalências de alterações e níveis mais elevados das aminotransferases. Os níveis médios da fosfatase alcalina estavam acima do valor normal em todos os grupos. CONCLUSÕES: O uso crônico de maconha, exclusivo ou associado a outras drogas, associou-se a alterações morfológicas e enzimáticas hepáticas, sugerindo serem os canabinóides substâncias possivelmente hepatotóxicas.
CONTEXT: Hepatotoxicity is a potential complication from the usage of various illicit drugs, possibly consequent to their liver metabolism, but information on this is scarce in the medical literature. OBJECTIVE: To study the occurrence of clinical and laboratory hepatic alterations in chronic marijuana users, from the use of marijuana on its own or in association with other legal or illicit drugs. TYPE OF STUDY: transversal study SETTING: Hospital Espírita de Marília, Marília, São Paulo, Brazil PARTICIPANTS: The study was made among 123 patients interned in the Hospital Espírita de Marília from October 1996 to December 1998, divided into 3 groups: 26 (21%) using only marijuana, 83 (67.5%) using marijuana and crack, and 14 (11.4%) consuming marijuana and alcohol. PROCEDURES AND MAIN MEASUREMENTS: Patients were examined clinically with special emphasis on types of drugs used, drug intake route, age when consumption began, length and pattern of usage, presence of tattooing, jaundice, hepatomegaly and splenomegaly. Serum determinations of total proteins, albumin, globulin, total and fractions of bilirubin, aspartate (AST) and alanine (ALT) aminotransferases, alkaline phosphatase (AP), gamma-glutamyltransferase and prothrombin activity were performed. RESULTS: Among users of only marijuana, hepatomegaly was observed in 57.7% and splenomegaly in 73.1%, and slightly elevated AST (42.3%), ALT (34.6%) and AP (53.8%). The three groups did not differ significantly in the prevalence of hepatomegaly, splenomegaly and hepatosplenomegaly. The group using both marijuana and alcohol showed the highest prevalence of alterations and highest levels of aminotransferases. Mean AP levels were above normal in all groups. CONCLUSIONS: Chronic marijuana usage, on its own or in association with other drugs, was associated with hepatic morphologic and enzymatic alterations. This indicates that cannabinoids are possible hepatotoxic substances.